Três anos seguidos de forte crise econômica são um evento raro que traz desdobramentos quase que inexoráveis, para os quais precisamos estar atentos. É comum comentarmos a evolução da conjuntura apenas com o uso de indicadores macroeconômicos. Inflação, crescimento do PIB, balança comercial, taxa de desemprego, reservas externas, taxas de juros, cotação do dólar etc. são as variáveis usualmente objeto da atenção de nossos economistas. Mas, não seria importante, para o pleno entendimento do fenômeno, atentar diretamente para o que se passa com empresas, famílias e instituições financeiras, na medida em que persiste uma forte recessão, quase depressão econômica e psicológica?
A primeira reação de empresas industriais e comerciais, diante de uma queda na atividade econômica, é reavaliar investimentos, paralisar contratação de mão de obra e tentar renegociar contratos de aquisição de insumos para baixar custos de produção. De início, não é grande a dispensa de trabalhadores, pois são elevados os custos de demissão e há incertezas sobre a recuperação do mercado comprador.
Persistindo, no entanto, o quadro recessivo, começa a se acelerar a dispensa de mão de obra e o atraso de pagamentos julgados adiáveis por não trazerem consequências imediatas sobre as operações empresariais. Do ponto de vista de empregados e suas famílias, o drama maior ainda não aparece por força do seguro-desemprego e das reservas para vicissitudes que alguns possuem.
O passo seguinte, quando nada de bom aparece no horizonte previsível, já é mais dramático. A inadimplência se estende a todas as áreas e muitas empresas fecham as portas. O desemprego se espalha, atingindo de forma mais contundente a classe média baixa e os pobres, que não dispõem de reservas, e ainda por cima se encontram endividados. Os grandes bancos privados têm sido cautelosos na concessão de crédito, mas o mesmo não pode ser dito dos bancos públicos. Estes poderão sofrer fortes consequências de uma conjuntura generalizada de inadimplências e de falências pessoais e empresariais.
Mantido o quadro de desânimo expresso nos índices de confiança levantados por diferentes instituições privadas, o que nos espera para 2016 é a situação derradeira acima exposta. Estima-se hoje desemprego acima de 12%, queda do PIB próxima de 3% e inflação cadente, mas ainda acima de 6,5%. Com tais números, não há como estimular o “espírito animal” de empresários nacionais e estrangeiros, que faria a roda girar novamente na direção de uma espiral ascendente de progresso.
É chegado o momento de reverter este quadro antes que possamos entrar em clima de convulsão social. Já não bastam remendos e medidas paliativas. A seriedade do momento requer um governo competente, capaz de nos mostrar um horizonte confiável em termos de responsabilidade fiscal e estimulador do empreendedorismo. Novas decepções serão catastróficas.
Fonte: “O Globo”, 26 de dezembro de 2015.
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