Uma questão tem intrigado os economistas na conjuntura atual: a queda persistente do desemprego. A despeito do baixo crescimento e, consequentemente, da baixa geração de vagas, a taxa de desemprego permanece próxima da mínima histórica. Essa situação continuará?
Diz a teoria econômica que o desemprego diminui se as empresas contratam mais do que demitem e/ou se as pessoas procuram menos emprego. A primeira condição depende basicamente de maior crescimento econômico, enquanto a segunda de crescimento populacional e de decisões individuais de oferta de trabalho. Como se comportaram essas variáveis no período recente?
O crescimento econômico hoje é sensivelmente menor do que aquele que vigorava antes do ápice da crise financeira, em 2008. Estamos crescendo em torno de 2%, enquanto entre 2003-08 crescíamos a 4%. Para compensar, a população economicamente ativa (PEA) viu sua taxa de crescimento interanual recuar de 2% para 1%. Em particular, pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, mais de um milhão de jovens entre 14 e 24 anos deixaram a PEA entre 2012 e 2013.
Os grandes números ajudam a entender a quebra estrutural verificada no mercado de trabalho brasileiro. Antes de 2009 uma queda no crescimento econômico e, consequentemente, na geração de vagas, antecipava aumentos contundentes do desemprego. Hoje, não necessariamente. A despeito da média móvel de 12 meses do saldo entre admitidos e demitidos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho ter recuado de quase 190 mil vagas no final de 2010 para pouco mais de 60 mil nesse início de 2014, a taxa de desemprego permanece próxima a 5%. Ao que parece, portanto, o baixo crescimento foi integralmente compensado pela menor procura por emprego, sem impacto sobre a taxa de desemprego.
Tendo isso em mente, há alguns cenários possíveis para o comportamento da população ocupada (PO) e da própria PEA este ano. Os dados fracos do nível de atividade, bem como as expectativas deterioradas de consumidores e empresários, nos levam a projetar crescimento médio da PO em 0,2% ao longo dos meses restantes de 2014. Para a PEA cinco possibilidades: 0%, 0,9%, 1,5%, 2% e a média histórica. Destaca-se que crescimento acima de 1,5% tem sido cada vez menos provável.
Ao considerar a média dos cenários traçados para a PEA, chega-se a uma taxa de desemprego oscilando no intervalo de 4,5% a 5,4%, centrada em 5% este ano. Ou seja, inferior à média de 5,4% verificada em 2013 e a de 5,5% de 2012. A tendência declinante do desemprego se dá a despeito de crescimento projetado de 1,6% este ano, contra 2,3% em 2013 e de 1% em 2012. Em outras palavras, o aumento (ou ausência dele) da procura por emprego, e não o crescimento da economia, é quem determinará a taxa de desemprego neste e nos próximos anos.
Como não se espera um avanço muito diferente da PEA do verificado até aqui, o desemprego não apenas permanecerá baixo, como pode até mesmo cair ainda mais nos próximos meses. No cenário com a PEA crescendo a 0%, ritmo verificado na média dos últimos 12 meses (na comparação interanual), o desemprego chega a 3,7% em dezembro. É uma restrição importante em termos de aumento do crescimento econômico nos próximos anos. O nome do jogo, mais do que nunca, será produtividade do fator trabalho.
O Bolsa Família contempla 13,8 milhões de famílias, beneficiando cerca de 50 milhões de pessoas (25% da população brasileira), que embora pertençam a um programa social de inserção, não estão incluídos no universo da população economicamente ativa (PEA).
Quantos milhões que estão beneficiando deste apoio social, embora sem estarem empregadas, não estão cadastradas como desempregadas? Muitos milhões! E não estão incorporados na taxa de desemprego!