Perduram no Brasil grupos de opinião para os quais o débil crescimento da economia deve-se à insuficiente exportação de produtos industrializados o que, por sua vez, resulta da baixa competitividade do setor. Embora seja inquestionável que elevada competitividade propicia benefícios cruciais ao país, convém examinar até que ponto a expansão do montante de manufaturados direcionados ao exterior impacta o desenvolvimento econômico e social brasileiro.
Para avaliar o impulso que as exportações do setor secundário, excluindo agroindústria, podem proporcionar à economia deve-se levar em conta que essas vendas: a) ocupam em torno de 18,0% do total exportado; b) representam aproximadamente apenas 11,4% do produto industrial e; c) beiram o inexpressivo peso de 2,4% do PIB. Tais cifras insinuam uma perspectiva não eufórica quanto ao mencionado impulso.
Por outro lado, o ímpeto da China, Coreia do Sul, Japão e Vietnã como ofertantes de produtos industriais no mercado globalizado, assim como a estonteante inovação tecnológica incorporada ao setor secundário e gerada sobretudo nos Estados Unidos, Europa Ocidental e China, são acontecimentos que cerceiam a probabilidade de figurarmos com destaque entre os supridores internacionais de manufaturados.
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No entanto, esse cerceamento não justifica sentimentos pessimistas quanto ao futuro do país. O Brasil desfruta dos requisitos para alcançar elevado status econômico e social mesmo sem luzir como proeminente ofertante mundial de produtos industrializados e, até mesmo, sem ostentar elevado grau de abertura externa da economia. Observando países economicamente exitosos, constata-se a inexistência de receita ideal homogênea quanto à relevância das vendas ao exterior de manufaturados e à abertura externa da economia.
Várias nações de invejável padrão de vida registram baixo grau de abertura, em termos de exportação total sobre PIB. Por exemplo: em 2017, nos Estados Unidos atingiu a 13,2% e na Austrália 14,3%, percentuais modestos e similares ao do Brasil. Com referência ao peso dos bens industrializados no total exportado, Estados Unidos e Austrália apresentam os contrastantes índices de 55,0% e 13,8%, respectivamente. Na Coreia do Sul 43,2% do PIB é canalizado ao resto do mundo e o setor secundário absorve 84,0% dessas transações, enquanto que no Canadá esses indicadores situam-se em torno de 32,0% e 48,0%, respectivamente. Portanto, não há um padrão ótimo a ser almejado.
Responsável por mais de 20% do PIB, o setor industrial é fundamental ao desenvolvimento brasileiro, mas sua principal fonte de prosperidade localiza-se na demanda exercida no interior de nossas fronteiras. Justifica-se batalhar pelo incremento da competitividade setorial pelo fato de beneficiar com maior intensidade o consumidor doméstico, que obterá acesso a produtos fabricados no país sob preços vantajosos em termos internacionais. Por outro lado, o incremento da competitividade sempre favorece a conquista de novas fatias do mercado externo, desde que o produto exportado receba adequado tratamento tributário.
Historicamente, o sucesso dos Estados Unidos como potência industrial é explicado pela elevada capacidade de consumo de sua população, proveniente de um razoável esquema de distribuição social de renda, sem considerar os escravos. Quando esse esquema começou a deteriorar-se, no final do século XX, a economia americana já havia atingido o pícaro e manteve seu vigor. Ainda assim, o tema do agravamento da concentração de renda vem preocupando expressiva parcela da sociedade americana.
Com mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil dispõe de um potencial de demanda interna suficiente para consolidar robusto empresariado industrial, a despeito dos condicionamentos oriundos da globalização. Para esse cenário tornar-se realidade o melhor caminho consiste na implementação de democrática política de atenuação da inequidade social, a partir da qual imenso contingente da população ingressaria no mercado consumidor de maneira sustentável. Tal ingresso ampliaria a escala de produção das unidades fabris, reforçando o aprimoramento da competitividade.
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Ao longo das décadas de 1950 a 1970 foi relativamente fácil impulsionar o PIB mediante substituição das importações de produtos industrializados. O mercado consumidor para as fábricas em implantação já existia, sendo antes suprido pelas importações e, ademais, o protecionismo obrigava a população a digerir os elevados preços dos bens doravante elaborados no país. Porém agora, mais do que nunca, os desempenhos da indústria e do PIB dependem da expansão do poder de compra do consumidor interno.
Enfatizar o mercado interno não implica em desleixar o externo. Oportunidades reais de exportação repousam em segmentos como agroindústria, agricultura, pecuária, minérios, petróleo, turismo, criatividade tecnológica vinculada a habilidades peculiares ao país, químicos, celulose além de o máximo possível de outros bens industrializados. Convém lembrar que o fluxo exportado sofre com a precariedade do setor de infraestrutura, cuja superação carece de satisfatório esquema de financiamento. A disposição do BNDES em priorizar infraestrutura talvez não baste para bancar os investimentos requeridos.
O destino da estratégia aqui sugerida encontra-se atado à implementação de reformas estruturais há vários anos apregoadas e sempre adiadas. Aliás, esse vínculo também afeta a própria continuidade do atual sofrível padrão de desempenho do cotidiano nacional, que pode piorar. Se não forem eliminadas as mazelas impregnadas na Previdência Social, na estrutura tributária, na administração pública e no sistema político partidário, qualquer tentativa de conduzir o país a dias melhores será bloqueada.