Não falta habilidade política ao presidente Michel Temer, o ponto forte de seu governo, aquilo que catapultou seu nome para o Palácio do Planalto, desde a aliança com o petismo, até o impeachment que o levou ao poder. Se de um lado existe esta qualidade, de outro também residem fraquezas, que tem se tornado cada vez mais evidentes durante o epílogo desta administração.
Não faltaram avanços neste governo. Partindo do teto de gastos, passando pela reforma trabalhista e a busca pelo reequilíbrio fiscal. Apesar disso, os erros se acumulam de forma sensível, corroendo o que o resta de credibilidade para manter a governabilidade. Um governo que nasceu forte, diante de uma base sólida no Congresso, enxerga seus últimos meses acumulando erros de forma melancólica.
Se o ponto forte até aqui foi a economia, a recente disparada do dólar e o freio no crescimento colocam em xeque as principais bandeiras desta administração. Resta saber o que restará para iluminar os desafios que se colocam adiante com o fim do poder. Apesar de saber manobrar bem no campo político, faltou convicção sobre os rumos das políticas adotadas, assumindo realmente a posição reformista, adotada em discurso, mas perdida na prática da velha política.
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O MDB é um grande consórcio de lideranças regionais com forte habilidade política e senso de sobrevivência. Sempre faltou ao partido defender rumos e bandeiras. Não há nos quadros da agremiação nomes técnicos que forneçam rumo programático. Isto explica o fato deste governo possuir políticas dispares em áreas correlatas, ter em cargos importantes nomes ainda ligados e patrocinados pelo petismo dispostos a sabotar qualquer iniciativa governamental. Além, é claro, dos oportunistas de plantão, que cercam o presidente apenas para impulsionar suas carreiras. Nenhuma destas pessoas tem um real compromisso com o país.
Com uma Esplanada dividida em feudos partidários, falta sinergia entre programas e pastas. Enquanto a economia está blindada das influências políticas, os demais ministérios agem como ilhas, algumas de excelência, como a agricultura, mas também outras inoperantes e tuteladas por opositores, que acabam por expor o presidente de forma infantil e desnecessária. O resultado do bizarro sistema de presidencialismo de coalizão gera estas distorções. Enquanto isso não mudar, viveremos com governos fortes no campo político, porém disfuncionais ou administrações programáticas, não obstante, fracas.
O desgaste do petismo, aliado ao desmonte tucano e o pragmatismo do MDB nos levam para um processo eleitoral absolutamente fragmentado, com completa ausência dos principais partidos como protagonistas. A culpa reside nos ombros daqueles que não souberam escutar a insatisfação popular, os próprios partidos, reféns de suas estruturas arcaicas e práticas políticas ultrapassadas. A impopularidade do atual governo evidencia isso. As chances de um outsider vencer as eleições deste ano nunca foram tão grandes. Quando a classe política perde o rumo da história, sempre surge o novo durante o processo. Estamos diante deste acontecimento.
Fonte: “O Tempo”, 21/05/2018