Depois de registrar Luiz Inácio Lula da Silva como candidato à Presidência, até amanhã, o PT terá formalmente até 7 de setembro para trocá-lo por Fernando Haddad. Será forçado a isso, pois Lula é inelegível.
É patente a divisão no partido sobre o momento da troca. A presidente Gleisi Hoffmann ainda declara nas páginas dos jornais que Lula estará na urna. O ex-ministro Jaques Wagner, candidato ao Senado pela Bahia, reconhece que o partido tem uma “estratégia de substituição”.
Ao mesmo tempo que diz preferir não figurar na chapa petista em 7 de outubro, Haddad participa de debates como candidato, dá entrevistas como candidato, planeja viagens como candidato e tira fotos de candidato ao lado da vice, Manuela D’Ávila.
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Da cela VIP, em Curitiba, Lula comanda a estratégia mais arriscada de toda a sua carreira política. O objetivo é eleger Haddad para poder ser solto e assumir informalmente o poder – nenhuma das duas coisas é consequência necessária da primeira, mas assim ele parece crer.
Lula também parece acreditar que, com apenas um mês de campanha e seu apoio expresso, o nome de Haddad se alastrará pelo país a ponto de garanti-lo no segundo turno, mais provavelmente contra Jair Bolsonaro ou, numa hipótese ainda remota, contra Geraldo Alckmin.
A favor da estratégia de Lula, pesa o histórico petista. O partido esteve no segundo turno nas últimas sete eleições presidenciais. É a agremiação política mais articulada, cujo apoio entre os brasileiros ainda está acima de 15%, mesmo depois da queda posterior ao pico de 30% em 2012. Quem quer que seja o candidato petista, parte de um patamar sólido.
Outro ponto essencial a essa estratégia é o próprio processo contra Lula. Há divergência entre os advogados para decidir que tipo de recurso deverá ser posto em marcha depois que a candidatura dele for impugnada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – há basicamente caminhos no próprio TSE, no Supremo Tribunal Federal (STF) ou no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O objetivo de qualquer iniciativa jurídica, contudo, está claro: postegar a decisão até o prazo final, para que o veto ao nome de Lula na urna seja visto como o clímax da perseguição a que, no entender dos petistas, ele vem sendo submetido. Quanto mais avançada a campanha, maior o impacto eleitoral do veto nessa narrativa.
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A divisão no PT revela o dilema: até que ponto adiar a troca até a undécima hora não terá um efeito oposto ao planejado? Diante da ambiguidade do TSE, os institutos farão pesquisa com Haddad de qualquer maneira. Passarão a ser encaradas como único cenário real. Haddad não terá o mesmo desempenho que teria caso já fosse o candidato oficial. Na melhor hipótese para o PT, o eleitor terá a sensação de que o partido está desorientado. Na pior, de que está fraco.
Na teoria, um mês pode bastar para levar Haddad ao segundo turno. Na prática, pode ser mais difícil. Tanto Ciro Gomes quanto Jair Bolsonaro disputam o eleitorado de baixa renda, habituado a votar no “candidato do Lula”. O primeiro leva vantagem no Nordeste. O segundo conseguiu montar uma rede surpreendente de palanques regionais, em virtude de traições aos nomes do MDB e do PSDB.
A campanha dará a Bolsonaro a chance de crescer entre os hesitantes, entre aqueles que só agora começam a se interessar pela eleição. Isso acontecerá naturamente, graças à participação em debates, em entrevistas e à estratégia dos adversários que prometem “desconstruir” sua imagem (dica de um editor experiente: sempre que alguém usar o verbo “desconstruir”, provavelmente não sabe do que está falando).
Quanto mais Bolsonaro for atacado pelos adversários, quanto mais aparecer na propaganda eleitoral dos outros, melhor para ele. Isso dá força a seu próprio discurso de perseguido pela “mídia” e pelo “sistema”. Líder nas pesquisas, ele é hoje o nome a derrotar. Até agora, não cometeu erros nem perdeu votos nos debates ou nas entrevistas que abriram a campanha.
Lula tem perfeita noção disso. Aposta na velha tática do “nós” contra “eles”, que deu certo nas últimas eleições. Seu objetivo é transformar a eleição em plebiscito sobre a própria prisão. Já demonstrou ao longo da vida faro incomum para sentir o humor político da população. Acredita que Bolsonaro, pela falta de experiência, será um rival mais fácil de derrotar no segundo turno. Será mesmo?
Fonte: “G1”, 14/08/2018