O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, preferiu encerrar sua missão à frente da instituição após dois inéditos mandatos sucessivos. Por seu excelente desempenho, Meirelles passa a integrar a santíssima trindade da estabilização brasileira, juntando-se ao valente Gustavo Franco, que derrubou o dragão inflacionário, e ao talentoso Armínio Fraga, que construiu sua jaula, o regime de metas de inflação.
Henrique Meirelles manteve o bicho enjaulado por longos oito anos. Teve de enfrentar a cada ciclo de elevação de juros pelo Copom bem mais do que as habituais pressões da classe política, de sindicatos de trabalhadores e mesmo de entidades patronais obsoletas como a Fiesp. Enfrentou também o “fogo amigo” do expansionismo fiscal e uma bateria de críticas dos próprios responsáveis pela inacreditável exibição de descoordenação macroeconômica.
Com muito mérito, o presidente do BC tem sido homenageado com frequência por seus pares internacionais. Sua atuação ereceu destaque em debate com Jean-Claude Trichet e Ben Bernanke na conferência do Banco Central Europeu em Frankfurt na semana passada. O Banco Central brasileiro compreendeu melhor a crise e reagiu mais rapidamente do que os bancos centrais das economias avançadas.
O colapso de seus canais de transmissão tornou ineficaz o estímulo monetário convencional. Enquanto outros bancos centrais perderam tempo precioso cortando a taxa básica agressivamente e esperando inutilmente que o impulso monetário fosse transmitido para a economia real, o nosso BC atuou diretamente sobre os canais
“Usamos as reservas internacionais para que os bancos emprestassem às empresas que haviam perdido acesso às linhas de crédito internacionais, linhas estas que tinham entrado em colapso. Anunciamos a venda de até US$ 50 bilhões nos mercados futuros, abrindo uma saída para o corner de liquidez que desestabilizava os mercados cambiais. Liberamos R$ 100 bilhões de recolhimentos compulsórios, direcionando R$ 40 bilhões para bancos pequenos e médios, evitando quebradeiras e corridas bancárias. Em 60 dias, os mercados futuros de crédito e de capitais se normalizaram, enquanto lá fora os mercados de crédito até hoje não retornaram à normalidade”, descreve Meirelles.
Nós, brasileiros, agradecemos a Henrique Meirelles. Sentiremos falta de seu profissionalismo, seu senso de missão e seu patriotismo.
Fonte: O Globo, 29/11/2010
Isso é um artigo ?
Isso é o que eu chamo de rabo preso.