De olho nas eleições de 2018, um grupo de partidos aposta na mudança de nome, inclusive com a retirada da palavra “partido” da nomenclatura, para se apresentar como uma nova alternativa e se descolar da atual crise política e se aproximar dos eleitores.
O PTN já efetivou a troca para Podemos. O PTdoB virou Avante. O PSDC se intitula agora Democracia Cristã. O PEN quer passar a ser denominado Patriota.
No PMDB, há um estudo para que a legenda resgate as origens e volte a ser MDB, como na época da ditadura, em que fazia oposição ao regime militar. O presidente da sigla, senador Romero Jucá (RR), chegou a defender a ideia em 2016, mas a discussão não foi adiante.
No entanto, o G1 apurou que ele pretende retomar esse debate até o fim deste ano.
Com o objetivo de se fortalecer para a disputa eleitoral, o DEM, que já foi PFL, também estuda alterar novamente o nome e articula uma revisão do estatuto para atrair parlamentares do PSB. Uma possibilidade aventada atualmente é que a sigla venha a se chamar Mude.
O que dizem os partidos
Podemos, antigo PTN
Presidente do Podemos, a deputada federal Renata Abreu (SP) explica que a troca do nome Partido Trabalhista Nacional (PTN), realizada no final de 2016, aconteceu após um longo estudo e que não foi feita pensada em 2018.
Ela, porém, reconhece que a mudança deverá ajudar a sigla nas urnas.
“A maior parte dos brasileiros não se identifica com partido nenhum. E queremos superar esse debate de direita-esquerda. Queremos ser um movimento e escolhemos ‘Podemos’ porque foi a palavra que mais aparecia nas nossas pesquisas, por representar um empoderamento. A ideia é distanciar da crise política e mostrar uma reaproximação com a sociedade”, afirma Renata.
A intenção dentro da legenda é lançar o senador Álvaro Dias (Pode-PR), recém-incorporado ao partido, como candidato à Presidência da República.
Avante, antigo PTdoB
No Avante, a nova denominação, após 27 anos como Partido Trabalhista do Brasil (PTdoB), faz parte de uma estratégia para aumentar o número de parlamentares eleitos em 2018, segundo o deputado federal Silvio Costa (PE). Atualmente, a bancada na Câmara tem apenas três nomes.
O presidente da legenda, deputado federal Luis Tibé (MG), diz que o novo nome é uma tentativa de “humanizar a política” e atrair quadros com uma preocupação de falar mais diretamente com a população.
“Buscamos pessoas que acreditam no mesmo que nós: na política do bem, na transparência e em um novo modo de atuar em favor do cidadão. Por isso, chegou um momento em que precisávamos incorporar esses ideais ao nosso nome e sermos reconhecidos por isso”, declara.
PEN
Objetivo semelhante tem o Partido Ecológico Nacional (PEN), que irá mudar para Patriota e, com isso, espera abrigar o deputado Jair Bolsonaro (RJ), que hoje está no PSC e tem planos de se lançar candidato ao Palácio do Planalto em 2018.
“Além de buscar a eleição do presidente da República, vamos impulsionar o partido de forma grandiosa e aumentar a bancada”, explica o líder do partido na Câmara, deputado federal Junior Marreca (MA).
PSDC
O Partido Social Democrata Cristão (PSDC) também está de olho em 2018. A Executiva já decidiu que terá candidato próprio a presidente, mas não definiu quem será.
Nos últimos anos, quem disputou o Planalto pela legenda foi o presidente do partido, José Maria Eymael, que concorreu em 1998, 2006, 2010 e 2014.
O diretor de marketing da legenda, Rubens Pavão, diz que a futura mudança de nome é uma tentativa de se diferenciar dos demais partidos.
“Com tanta sigla, o PSDC se confunde. O projeto é mostrar a nossa filosofia, a democracia cristã, e solidifica-lá. Decidimos colocar o nosso nome e sobrenome. Não mudamos, apenas assumimos aquilo que somos”, argumenta.
Regras atuais
Pelas regras de fidelidade partidária fixadas pela legislação eleitoral, os parlamentares que quiserem mudar de partido terão que aguardar até março, seis meses antes da eleição, quando será aberto prazo de um mês para que migrem sem sofrerem punição. Quando a mudança é feita fora desse período, os parlamentares podem perder o mandato.
As situações aceitas fora desse período são em caso de criação ou fusão de legenda ou de mudança substancial ou desvio do programa partidário, além de grave discriminação pessoal.
Cientistas políticos
A simples mudança de nome, porém, é vista com ceticismo por cientistas políticos, que consideram a estratégia somente uma jogada de marketing.
Na avaliação de David Fleischer, Universidade de Brasília (UnB), alterar o nome representa “apenas uma mudança de fachada” e que é preciso haver uma reforma política profunda.
Roberto Romano, professor de política e ética da Universidade de Campinas (Unicamp), também considera ser algo pouco eficaz para o eleitor brasileiro.
“Os marqueteiros acham que mudando a sigla ou trocando por uma palavra mais significativa vão atrair a atenção dos eleitores. Mas o eleitor brasileiro foi acostumado, e isso é muito ruim, a não votar tanto em legendas, mas em indivíduos”, pondera. Dessa forma, ele acredita que o nome é “o que menos importa nesse momento de crise”.
De acordo com Romano, a tendência de trocar as siglas por palavras também tem uma explicação ligada às coligações partidárias.
Como é comum partidos usarem no nome termos como “socialista” ou “liberal” para indicar o seu posicionamento político, na hora de fazerem alianças, causava um certo estranhamento a união de partidos com ideologias diferentes. Com a mudança do nome por palavra, isso ficará menos evidente.
“Antes, os partidos utilizavam o nome como uma condensação do programa. Se era socialista, carregava isso no nome. Hoje, os partidos buscam palavras mais genéricas para representar a sigla, ao invés de carregar no nome ideologias”, diz Romano.
Migração de legenda
Apesar de haver internamente no Democratas uma discussão sobre a troca do nome, a mudança é tratada, neste momento, como algo secundário.
A prioridade, segundo o senador José Agripino (DEM-RN), que preside o partido, é reformular o estatuto. O objetivo é atrair parlamentares de outras siglas.
“Isso dará uma oxigenação. Existe uma dissidência do PSB por insatisfação com a direção do partido. Estamos conversando”, diz Agripino.
Segundo o líder na Câmara, Efraim Filho (DEM-PB), a alteração estatutária visa também a reposicionar o partido no espectro ideológico.
“O que se vê é um discurso polarizado. O [deputado Jair] Bolsonaro representa uma extrema direita. O [ex-presidente] Lula, a esquerda e fica essa lacuna no centro a ser preenchida e que pode ser preenchida por nós”, avalia.
O G1 apurou que as articulações com deputados do PSB estão avançadas e podem ser concretizadas nas próximas semanas. Agripino, porém, desconversa: “Conversas existem, existem. Há fato consumado? Ainda não”.
Fonte: “G1”, 12/08/2017
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