A Revolução dos Bichos foi escrita em 1945, num contexto da Segunda Guerra Mundial, mas qualquer um que pegue o livro para ler identifica facilmente elementos da política atual. A depender da angulação política do leitor, ele identificará o espectro oponente como o vilão da estória, mas a verdade é que a moral do livro busca mostrar que dar a uma pessoa (na alegoria usada, um porco) todo o poder sobre os demais, resulta em autoritarismo, com vantagens demasiadas para o líder e privações para o povo.
O autor, George Orwell, era socialista, e a crítica era direcionada ao regime Stalinista, que veio após a morte de Lenin, representado na estória pelo porco Major (após isso, o socialismo teria sido deturpado). Ao assumir o poder, o porco Napoleão (Stalin) instaura uma ditadura na fazenda, onde os animais passam por privações de comida e precisam trabalhar excessivamente em prol do conforto do líder, enquanto este leva uma vida boa, morando na casa que antes pertencia aos humanos, dormindo na cama (algo julgado imoral no início da revolução na fazenda) e comendo a maior parte do fruto do trabalho dos outros animais.
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Questionar o porco líder significava traição, ou seja, era o mesmo que desejar o retorno do humano Sr. Jones ao comando da granja. Se fizermos uma analogia com o o Brasil contemporâneo, criticar o Partido dos Trabalhadores até bem pouco tempo era tido como querer o retorno da “ditadura” e o “fim dos direitos dos pobres”. Já para os apoiadores do atual governo, criticar o presidente Jair Bolsonaro é o mesmo que desejar o retorno do PT. Os governos mudam; as técnicas de retórica e manipulação, não.
E Orwell nos mostra que isso é bem mais antigo do que parece, e que tem mais a ver com o desejo natural do ser humano de satisfazer aos próprios interesses e obter mais vantagens que os demais. E é justamente por isso, que não podemos entregar nas mãos de político nenhum o controle de nossas vidas e de nossos ganhos.