A dica de leitura da semana é o livro “História do Brasil com empreendedores”, do escritor e doutor em ciência política Jorge Caldeira. A obra apresenta um panorama econômico do Brasil colonial (1500-1822), com foco no empreendedor, que abandonou a tradição e a sociedade nativa em busca do enriquecimento. Resultado? A economia brasileira, em 1800, era maior do que a de Portugal. Caldeira analisa essa mudança e suas consequências.
Sobre o livro
A obra analisa o empreendedor do Brasil colonial e a partir dele, busca explicar dados econômicos que vêm sendo levantados em pesquisas recentes, que não casam com as grandes explicações vigentes.
Leia mais
“Liberdade econômica é o melhor caminho para gerar riqueza e prosperidade!”
Os caminhos para a manutenção da agenda liberal
Segundo os novos dados a economia do Brasil colonial tinha uma dinâmica muito maior do que a prevista pelos grandes modelos; crescia à taxas superiores que a da economia metropolitana. Como resultado, em 1800 a economia brasileira era muito maior do que a de Portugal. O livro trata esse cenário de dois modos: em primeiro lugar, lida com a grande dominância do modelo do latifúndio agrário-exportador. Por esse modelo, a economia colonial brasileira teria sido organizada em grandes latifúndios, de modo a exportar matérias-primas a baixo preço e transferir riqueza para a Metrópole. Como resultado, o mercado interno seria mínimo e a sociedade, escravista. Como a aceitação do modelo torna pouco crível o cenário de desenvolvimento, é feita uma análise em profundidade de seu núcleo central, a categoria latifúndio, para entender como ela gerou explicações nas quais o mercado interno era tão subavaliado. Essa imersão traz resultados surpreendentes.
A segunda parte do livro faz uma análise da formação do mercado interno, tendo como norte o estudo das trocas contratuais. E nela se revela que o mercado interno do Brasil colonial atingia todas as camadas sociais e etnias, desde os índios na floresta até os grandes comerciantes do litoral. Mesmo em um cenário de falta aguda de capital, desde o século XVI foi possível montar uma rede de troca de mercadorias sofisticada para o tempo, graças ao envolvimento ativo dos tupis nessa rede. A mistura de relações pessoais com trocas de mercadorias tornou essencial no Brasil a figura que queria enriquecer, não tinha dinheiro, mas tinha capacidade de organizar a produção e expandir o mercado: o empreendedor. Figura central numa sociedade em que poucos homens livres tinham escravos (apenas 9% deles eram proprietários, no início do século XIX), e na qual formavam a maioria da população (62% do total, no mesmo momento), o empreendedor organizava trabalho e buscava enriquecer.
Crescia por si mesmo, porque o mercado crescia, e também porque não paravam de chegar novos empreendedores, que se fixavam na sociedade colonial por casamento. Tendo esse grupo como base, é possível entender a montagem de uma economia dinâmica, mesmo numa realidade na qual o governo agia contra o desenvolvimento e a escravidão estava por todo lado. O empreendedor revela claramente o cenário de desenvolvimento que o modelo vigente é incapaz de descrever.
Sobre o autor
Jorge Caldeira é escritor e doutor em Ciência Política pela USP. É autor dos livros “Mauá, empresário do Império” (Cia. das Letras, 1995), “História do Brasil com empreendedores” (Mameluco, 2010). “Júlio Mesquita e seu tempo” (Mameluco, 2015) e “História da riqueza no Brasil” (Estação Brasil, 2017).