Desde a Grande Depressão dos anos 30, jamais a economia europeia atravessou momento tão ameaçador quanto o atual. Descontando, evidentemente, o Pós-Guerra, quando foi salva pelo Plano Marshall. Ainda emaranhados nos dissabores da crise de 2008, a maioria dos países locais não vêm conseguindo redirecionar o desenrolar dos acontecimentos em direção à retomada do crescimento.
Encoberto por uma nuvem recessiva, o Velho Continente continua tateando a busca do caminho salvador, mostrando-se desnorteado ante as conflitantes propostas de política provenientes de várias correntes do pensamento econômico. Subjugados a um conjunto adverso de resultados nas áreas de incremento do PIB, nível de desemprego, taxa de investimento, competitividade, desempenho monetário e indicadores sociais, as nações europeias hesitam em abandonar posturas ortodoxas que, na realidade, não vêm funcionando.
Esse panorama justifica inquietações por parte do resto do mundo, principalmente América Latina e Estados Unidos, pois a perseverança ou o agravamento da crise europeia respingará sobre o crescimento mundial, inclusive através do mercado financeiro.
A letargia da economia local revela-se também sob a forma do processo de desinflação que atinge oito países, enquanto que a taxa média da área paira em meros 0,3%. E não se trata da “boa desinflação” ou estabilidade monetária resultantes de um incremento da produtividade da economia ou louváveis políticas fiscais. A origem da queda ou estancamento dos preços se encontra na inibição do consumo e do investimento. Reflete, portanto, uma enfermidade, e não uma condição saudável.
[su_quote]Continente continua tateando busca do caminho salvador, mostrando-se desnorteado ante as conflitantes propostas de diferentes correntes do pensamento econômico[/su_quote]
Ante tal cenário, a atitude clássica seria baixar a taxa de juros de maneira a incentivar o investimento privado e o consumo das famílias. Mas acontece que os juros na Europa já encontram-se próximos ou abaixo de zero, sem nenhum resultado positivo sobre o crescimento econômico. A vocação estimuladora desse instrumento esgotou-se. Por sua vez, o outro instrumento dinamizador usual, o investimento público, sofre o bloqueio produzido pelo déficit orçamentário e realçado pela austeridade fiscal adotada pelos países da região.
Isso significa que a Europa está predestinada à estagnação e decadência? Como o contexto histórico não fornece espaço para um novo Plano Marshall, o Velho Continente terá que recuperar por conta própria sua prosperidade. Trata-se de algo factível se os investimentos públicos forem de imediato desbloqueados e a conservadora sociedade local digerir reformas estruturais que recuperem a competitividade da economia e ampliem a equidade social.
Em face da convivência entre a timidez do investidor privado e a significativa liquidez internacional de capital, o único fator impulsor da economia disponível no momento é o investimento governamental em infraestrutura, educação e saúde. A sua efetivação, no entanto, depende de radical mudança de política no sentido ampliar o endividamento publico mediante a emissão de títulos a serem adquiridos pelo Banco Central Europeu e compradores privados. Por enquanto não há sinais de disposição para semelhante ousadia.
Fonte: O Globo, 19/1/2015
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