Com 20 meses de atraso a presidente Dilma Rousseff lançou um programa de governo. A promessa, agora, é conduzir o país a um “novo ciclo de desenvolvimento”. Para isso, admitiu, será preciso cuidar da competitividade, um “novo conceito”, segundo ela, acrescentado às três “palavrinhas mágicas” até agora adotadas como diretrizes – estabilidade, crescimento e inclusão. O compromisso foi oficializada no discurso de 6 de setembro, véspera da festa da Independência. O conceito é bem conhecido. A única novidade é o reconhecimento parcial, pela presidente, de alguns fatos apontados por vários analistas há muito tempo e teimosamente ignorados ou menosprezados pelo governo:
1. Falta à economia brasileira potencial para crescer de forma sustentável acima da média dos últimos 10 anos. Estimativas de economistas respeitáveis apontam uma capacidade média de crescimento de uns 4% ao ano, talvez pouco menos que isso;
2. Os principais problemas de competitividade e, portanto, de crescimento, estão associados a fatores bem conhecidos e geralmente indicados pelo rótulo “custo Brasil”. Esse conjunto inclui, entre outros itens, infraestrutura deficiente, tributação pesada e irracional, excesso de burocracia, instabilidade de regras e insegurança jurídica, além de uma escassez crescente de mão de obra qualificada ou até sem condições de ser treinada no trabalho. Estudos periódicos do Banco Mundial, do Fórum Econômico Mundial e de grandes empresas de consultoria têm explorado seguidamente esses problemas. O mau desempenho dos estudantes brasileiros em testes internacionais – e até nacionais – comprova a baixa qualidade do ensino e, mais que isso, os erros do governo ao eleger as prioridades da política educacional.
Deu-se muita ênfase à abertura das portas das faculdades, embora os grandes problemas estivessem nos níveis inferiores e o gargalo mais apertado fosse obviamente situado no ensino médio. Uma espiada nos dados do IBGE confirmaria facilmente essas afirmações. Nos últimos tempos, a propaganda oficial começou a alardear investimentos em escolas técnicas. Os fatos mostram outra história;
3. A presidente e seu ministro da Fazenda gastaram muito tempo acusando as autoridades do mundo rico de promover uma guerra cambial e de inundar o mundo com um tsunami monetário. O desajuste cambial de fato ocorreu, mas apenas agravou os problemas estruturais, O câmbio melhorou, mas a importação continuou, durante meses, crescendo mais que a exportação. Só a competitividade do agronegócio impediu um resultado pior.
Câmbio faz diferença, de fato, mas no Brasil a depreciação cambial serviu por muitos anos principalmente para mascarar as muitas ineficiências nacionais. Boa parte do empresariado acostumou-se ao conforto dessa proteção extra, numa economia já superprotegida. Por isso brigou muito pelo câmbio e bem menos do que devia contra os problemas estruturais. A Confederação Nacional da Indústria já produziu bons trabalhos sobre a competitividade, mas passou, recentemente, a dar maior destaque ao tema em seu portal.
Os planos de logística, de desoneração da folha de salários e de barateamento da eletricidade são apenas um começo. Falta muito para a montagem de uma política de competitividade. Mesmo com a convocação do setor privado para os investimentos em infraestrutura, a ineficiência do governo continuará sendo um entrave importante. Nada melhor que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para evidenciar a baixa qualidade da gestão federal.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 23/09/2012
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