A postura não foi inaugurada pelo atual governo e muito menos tem nele seu principal expoente. Mas, de vez em quando, a própria presidente Dilma Rousseff se dedica a praticar o velho esporte brasileiro de terceirizar as responsabilidades pelos problemas nacionais e de culpar o mundo por tudo que nos atinge.
Ontem, em Nova Delhi, Dilma propôs uma ampla reforma tributária – num momento em que todas as propostas de mudança da política fiscal brasileira esbarram na lógica da Fazenda de que não se mexe em time que “está ganhando”.
Que vitória é essa? A capacidade de tirar cada vez mais dinheiro da sociedade. O furor arrecadatório de uma máquina pública cada vez mais onerosa impede que o governo alivie a carga tributária das empresas e, com isso, as torne mais competitivas.
Seria muito bom se o país fizesse uma reforma tributária abrangente. Isso tornaria nossa indústria menos sujeita aos efeitos das “políticas expansionistas” promovidas por países que, por meio de artifícios cambiais, promovem “novas e perversas formas de protecionismo”.
Essas palavras foram ditas por Dilma Rousseff anteontem em Nova Delhi. Elas contêm uma crítica direta e justa aos países desenvolvidos.
Nos últimos tempos, os Estados Unidos e a Europa desenvolveram o hábito de inundar seus bancos de dinheiro com a intenção de proteger o sistema financeiro das consequências da crise internacional – e, no caso europeu, de estimular a compra de títulos das dívidas dos países europeus em dificuldades.
O efeito da medida, como se sabe, é a volta desse dinheiro ao mercado e a consequente desvalorização das moedas – o que, na outra ponta, prejudica as economias dos países em desenvolvimento.
Por mais justas que sejam as críticas de Dilma às práticas neoprotecionistas, é impossível não reparar na falta de estratégia do Brasil diante da guerra cambial promovida por inimigos com mais poder de fogo do que ele.
A impressão que se tem ao ouvir as autoridades brasileiras é a de que a única solução para o problema seria o fim desse tipo de prática por parte dos países desenvolvidos. A pergunta é: e se ninguém quiser parar?
O Brasil, nesse caso, se limitaria a continuar protestando contra a deslealdade dos parceiros ou adotaria medidas concretas?
Esse é o xis do problema: na hora de agir, o governo só se move a toque de caixa. A imensa maioria das medidas de proteção à indústria anunciadas pelo governo até agora visa dificultar a vida dos concorrentes estrangeiros no mercado brasileiro.
Isso se aplica ao aumento de IPI para os carros importados, à revisão do acordo automotivo com o México e a mais um punhado de regras emergenciais baixadas pelo governo nos últimos tempos.
Poucas medidas se destinaram a melhorar as condições de competitividade dos produtos brasileiros no exterior. E nenhuma delas (nenhuma mesmo) cuidou de criar regras permanentes, que permitam às empresas um planejamento de longo prazo.
Em Nova Delhi, Dilma disse que, em seu retorno ao Brasil, anunciará medidas de estímulo à indústria. Tomara que sejam mesmo de estímulo à produção brasileira, e não medidas protecionistas, destinadas, mais uma vez, a fechar o mercado.
Fonte: Brasil Econômico, 30/03/2012
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