O banqueiro Olavo Setúbal, que morreu em 2008, contava uma história que explica de forma exemplar o descaso de muitos brasileiros com o dinheiro público. Prefeito de São Paulo entre 1975 e 1979, Setúbal certa vez recebeu em seu gabinete uma delegação de um bairro da periferia – que o procurou para reivindicar a construção de uma ponte.
Comovido com o drama dos cidadãos, ele chamou à sala o secretário Cláudio Lembo e procurou ali mesmo a solução mais rápida para o problema. Os dois concluíram que o melhor seria criar em caráter emergencial uma taxa específica para a finalidade.
Antes que o diálogo terminasse, o líder da comitiva interveio: “Não, doutor Olavo. Nós não queremos que a ponte seja construída com dinheiro da gente, mas da prefeitura.” Para aquele grupo, assim como para muita gente hoje em dia, dinheiro público não é dos cidadãos. Ele apenas surge e, assim sendo, pode ser gasto de qualquer maneira.
A história me veio à cabeça diante da farra com dinheiro público promovida no Ministério dos Transportes – uma herança maldita legada pelo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não à presidente Dilma Rousseff, mas ao Brasil.
A cada dia, percebe-se que o dinheiro “da gente” escorre por um ralo voraz e que ainda há muita podridão para vir à tona. Tanto assim que a presidente, na sexta-feira passada, irritou-se com mais uma notícia de roubalheira no Dnit e mandou afastar o diretor do Dnit, José Henrique Sadok de Sá. Uma denúncia publicada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” dava conta que a empreiteira da mulher de Sadok de Sá tinha contrato de R$ 18 milhões com o órgão.
Em tudo isso, o mais lamentável e patético tem sido a postura do ainda diretor-geral do Dnit José Antônio Pagot. Ele chegou ao órgão ainda no governo Lula, como resultado da negociação que resultou na transferência de seu padrinho político, o então governador Blairo Maggi, da oposição para a chamada “base aliada do governo.”
A nomeação chegou a ser questionada na justiça, mas o prestígio de Maggi junto ao ex-presidente e os votos do PR no congresso falaram mais alto. A candura com que ele vem entregando os adversários e trazendo à tona os podres do departamento que ainda dirige (tecnicamente está de férias) mostra duas verdades. (Sadok foi dedurado por ele em seu depoimento ao Senado antes da imprensa “descobrir” a irregularidade).
A primeira verdade é que ele tinha perfeita consciência do que se passava sob seu nariz e fazia vista grossa para a lambança. Ou seja, foi, no mínimo, leniente diante da roubalheira – talvez para que seus correligionários não fossem incomodados ao fazer o mesmo.
A segunda é que, ao entregar primeiro a cabeça de um corrupto de baixo preço (sim, R$ 18 milhões, na escala da corrupção brasileira, parece uma ninharia), ele deixa no ar que sabe de coisa mais graúda. E parece pretender trocar seu silêncio pela permanência no cargo.
A presidente está certa em querê-lo longe do governo. Gente como ele é um câncer e, como tal, deve ser extirpado da administração pública. Essa crise não é contra Dilma, é a favor do país.
Fonte: Brasil Econômico, 18/07/2011
Quase o mesmo se sucedeu com o grande furto perpetrado simultaneamente sobre os depósitos em bancos privados e oficiais, em 15 de novembro de 1995. Os 3o bilhões que voaram às Cayman foram cobertos por parte dos depósitos dos bancos isentos. Um overbooking ao contrário. Como o dinheiro assim não era de ninguém, ninguém deu bola à enormidade, E o “cobertor” ainda é reverenciado tal qual macroprudente.