Foto: Divulgação
O assassinato do chefe militar iraniano Qassim Suleimani, em Bagdá, no início do ano, por forças americanas, poderia trazer dois tipos de reação, ameaças de guerra nas suas múltiplas formas, como vingança pelo ato, ou o recurso a uma queixa formal por crime contra um funcionário de um governo junto a organizações internacionais.
O Irã centrou sua resposta na primeira opção, bombardeando duas bases com militares americanos no Iraque e acertando, por um erro reconhecido por autoridades do país, um avião ucraniano que decolava do aeroporto de Teerã.
Depois disso, os dois lados vieram com discursos que parecem construir um caminho para uma redução do risco de guerra e para frear a violência. Não há, porém, grande otimismo a respeito e as tensões tendem a escalar.
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Os tempos que vivemos não são, de fato, para amadores. Todo um consenso construído a duras penas a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, com forte liderança de Franklin Roosevelt, sobre como construir um caminho para se evitar grandes conflitos internacionais ou regionais, por meio de organizações internacionais e fortalecimento da diplomacia, parece ter ruído. Os culpados? Certamente os novos nacionalismos xenófobos e a emergência de populismos que prometem soluções simples e fáceis de explicar para uma população ressentida, mobilizando-a contra o inimigo errado.
No livro, recentemente traduzido para o português, “Guerra contra a Paz”, o jornalista Ronan Farrow descreve como soluções conflituosas foram precedidas nos Estados Unidos de uma desvalorização da profissão de diplomata, do seu desafiador trabalho de persuasão e de negociação entre adversários. Sem dúvida, o ataque às Torres Gêmeas em 2001 não ajudou a preservar uma diplomacia profissionalizada e preparada para os constantes embates em que o país teve que se envolver ao redor do globo. Favoreceu também, segundo o embaixador Rubens Ricupero, a promoção de ações unilaterais e de recurso frequente ao uso da força.
A edificação de sociedades democráticas, prósperas, inclusivas e pacíficas é um trabalho que requer que se abandone a tentação de manifestações de virilidade e se respeitem propostas técnicas, eventualmente cheias de meandros, mas menos propensas a promover a guerra como opção primeira.
No Brasil, isso significa preservar a diplomacia profissional de qualidade que ainda temos e o respeito a acordos internacionais que assinamos. Entre eles, destacam-se os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, em especial o 4, que preconiza que eduquemos as novas gerações para a redução da violência e para a promoção da paz.
Fonte: “Folha de São Paulo”, 17/1/2020