Os argumentos por trás da paralisação dos servidores públicos – que estão protagonizando uma temporada de greve que ninguém sabe onde vai parar – são a prova de que, no Brasil, as pessoas se preocupam demais com seus direitos e de menos com seus deveres.
Para os líderes do movimento, os quase 16% de aumento propostos pelo governo não atendem às reivindicações da categoria – ainda mais porque o governo não apresentou, com a proposta financeira, o tal plano de carreira que faz parte das exigências dos grevistas.
Bem, para começo de conversa, convém lembrar que o funcionalismo público, no Brasil, tem regalias com as quais os empregados da iniciativa privada nem sequer sonham.
Somente aqueles que cometem uma besteira sem tamanho correm o risco de ser demitidos. Além disso, todos se aposentam com o mesmo salário e os mesmos benefícios da ativa.
Tudo isso é mais do que sabido, assim como também é sabido que, ao prestar o concurso público que lhes abre as portas para a carreira, o servidor concorda com os termos oferecidos pelo empregador – e a nenhum deles foi prometido o plano de cargos e salários.
É comum, ainda, que o candidato preste uma prova para um cargo de menor exigência e, uma vez lá dentro, tente se transferir para uma carreira mais bem remunerada ou com um grau de exigência e de qualificação maiores do que as daquela da qual concordou em participar.
Em todo lugar do mundo, o funcionalismo público existe para prestar serviço ao público. Todos os cargos do organograma federal (assim como o dos estados e municípios) são necessários para o bem-estar da população.
Além disso, é obrigatório reconhecer a existência de milhares de funcionários públicos bem preparados e competentes.
O problema é que o respeito com o público, pelo menos no que se refere aos “líderes” do movimento grevista, passa longe das preocupações.
Para muitos, o fato de se julgarem merecedores de um salário superior ao que lhes foi prometido no ato do concurso público que prestaram é justificativa suficiente para deixarem pessoas sem atendimento nas filas dos hospitais ou para fazer vistas grossas às irregularidades que acontecem sob seu nariz (conforme fizeram os policiais rodoviários de Foz de Iguaçu, que prometeram deixar as estradas livres para os traficantes de drogas e contrabandistas de armas).
Os governos do Brasil em geral e o atual em particular têm revelado extrema inabilidade na hora de negociar com os servidores.
Parece que, por razões que começam no fato de muitos dos grevistas serem vistos como “companheiros” dos mais graduados, o governo tem pudores em tratar os grevistas conforme prevê a lei.
Todas as ações que contemplam alguma punição aos grevistas, quando são tomadas (o que é raríssimo), parecem envergonhadas. Desse jeito, o problema nunca terá solução, e a greve só terminará quando os funcionários perderem o interesse em levá-la adiante. E o público que se dane.
Fonte: Brasil Econômico, 28/08/2012
“O meu direito termina quando começa o teu”, “As obrigações são a contrapartida dos direitos”….duas regrinhas fáceis de serem explicadas e que deveriam constar dos ensinamentos que famílias e escolas transmitem às crianças.