A forma como os bancos emprestam recursos, com o olhar para seu balanço financeiro e com exigência de garantias, desenvolve uma “discriminação no crédito”, na qual empresas de menor porte são penalizadas com uma taxa de juros mais alta, afirma Fernando Ribeiro, presidente da Kobold, gestora especializada na gestão de fundos creditórios (FIDCs). Esse cenário ficou mais em evidência na pandemia, especialmente no pior momento da crise, na qual as grandes empresas tiveram acesso a liquidez, enquanto as empresas menores não. A seguir, trechos da entrevista:
Por que o crédito é discriminatório?
A maneira em que o crédito é oferecido ao mercado vem com dogmas seculares. O grande, médio e pequeno são considerados pelos seus números e suas disponibilidades de garantias. O acesso ao crédito mais barato é para quem é mais forte e grande e mais caro para quem tem uma estrutura mais frágil de capital. Essa forma de conceder crédito não potencializa as estruturas de negócio e provoca o empoçamento de crédito e discriminação, de alguma forma.
E isso ficou mais claro na pandemia?
A discriminação ficou mais evidente na pandemia. No começo houve muita busca por crédito e os grandes conseguiram, pois tinham menos risco. Para as pequenas e médias o melhor modelo foi o Pronampe, mas mesmo assim não atendeu a todas.
E como o risco das empresas pode ser medido?
O risco não pode ser medido por uma foto do passado, sem compreender o presente. Se um pequeno empresário cumpre o que propõe em suas transações com uma grande empresa, ele não pode ser penalizado pelo seu tamanho. A tecnologia já permite que essa análise seja feita, capturando em tempo real uma série de evidências ao longo da vida da transação.
Mas como dar crédito mais barato a empresas menores?
É preciso fortalecer as cadeias e dar um novo outro olhar ao crédito. Não por foto, mas por filme. É preciso conhecer as condições da cadeia, conhecer o propósito e aí precificar o risco. Com o crédito, você fortalece a empresa, a cadeia e a empresa protagonista também. Há melhora em todo o ecossistema e mais saúde para as pontas que estão mais frágeis.
E as empresas protagonistas de cadeias de fornecedores estão mais sensíveis ao tema?
Estamos em conversas com mais cadeias para oferecer a infraestrutura em que grandes empresas fazem o crédito chegar aos pequenos. Fechamos com a SAP e em breve deveremos anunciar uma parceria com uma multinacional no setor de equipamentos médicos. As cadeias perceberam a necessidade de manter a sua cadeia sadia.
Fonte: “Estadão”, 15/02/2021
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