A intolerância vem se tornando um dos elementos centrais da política ao redor do mundo. Desde as ruas do Oriente Médio, passando pelas esquinas de Paris ou pelos bares do Estados Unidos, vemos um sentimento cada vez maior de falta de entendimento e percepção das diferenças que permeiam as culturas de diversos povos.
Hayek, agraciado com o Nobel de economia, escreveu sobre o assunto em sua célebre obra “O Caminho da Servidão”. O austríaco, dissecando as origens do pensamento que levaram regimes totalitários ao poder, descreveu de forma precisa esse mecanismo para angariar votos e popularidade. O alvo dos oportunistas na época, como sabemos, eram os judeus. A identificação de um inimigo comum foi a chave que despertou um exército de intolerância que levou a uma das mais dramáticas experiências da história da humanidade.
Sabemos que essa brutalidade não encontrou limites nas fronteiras da Europa. Vimos tristes episódios no Camboja, na Rússia, na China, em diversos países africanos e, inclusive, na América Latina. Depois desses terríveis casos, tudo indicava que o mundo caminhava em um sentido de maior tolerância e convergência, entretanto em pouco tempo vimos o renascimento do discurso de ódio em diversos países.
Não há dúvida de que os atentados terroristas, catapultados ao patamar de larga escala pela Al Qaeda, fizeram com que o mundo direcionasse sua atenção ainda em fins do século XX para o discurso de ódio existente no Oriente Médio.
Não demorou para que o medo, impulsionado pelo terrorismo, abrisse caminho para a intolerância e penetrasse na política ocidental de forma determinante. Se o terrorismo abriu espaço para o discurso do ódio na política, outras formas de intolerância também passaram a crescer, seja pela vertente econômica ou social. Quanto mais a sociedade encontra diferenças, maior o combustível de alimento da intransigência.
Os resultados estão nítidos diante do movimento do eleitorado. Desde a decisão pela saída do Reino Unido da União Europeia, passando pelos Estados Unidos e pela Europa, enxergamos as conquistas da sociedade aberta ocidental se diluírem no caldo de intolerância que vem arrastando multidões para urnas.
O caminho da solução está em não deixar que o discurso de ódio penetre na cultura ocidental. Se em determinados locais ele tornou-se o combustível da intolerância, cabe às sociedades mais desenvolvidas responder a essa provocação de forma inteligente, evitando levar a disputa para o terreno inimigo. Como sabemos, há uma lei na política: “Se você não gosta como a mesa está posta, vire a mesa”. Já passou da hora de virar o jogo.
Fonte: “O Tempo”, 9 de janeiro de 2017.
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