Em meio à atual discussão sobre a reforma da Previdência, cada vez mais brasileiros recorrem aos planos privados, de olho na aposentadoria. De acordo com dados da FenaPrevi, que reúne seguradoras e entidades abertas de previdência complementar no país, houve alta de 10,7% no volume de recursos aplicados nos fundos nos primeiros cinco meses deste ano, frente ao mesmo período de 2015. O total passou de R$ 36,4 bilhões para R$ 40,3 bilhões. E os bancos estimam que o setor feche o ano com crescimento médio de 16%.
— As pessoas estão se dando conta de que é preciso acumular recursos para a aposentadoria. Hoje, já há um entendimento de que o sistema público tem limitações. Como mais da metade da população, segundo pesquisa que fizemos, já ouviu falar da reforma da Previdência, há aumento na procura pelos planos. Mas, claro, há diferentes tipos de produtos, e por isso é preciso atenção para escolher o plano certo — explica Edson Franco, presidente da FenaPrevi.
O primeiro passo, na hora de contratar um plano de previdência privada, é escolher a modalidade correta. Hoje, existe o VGBL, indicado para quem declara o Imposto de Renda (IR) pelo modelo simplificado. Nesse caso, não é possível abater do IR os depósitos feitos no plano. O VGBL responde hoje por 91% do setor, segundo a FenaPrevi. Outra opção é o PGBL, mais indicado para quem declara pelo modelo completo. Nesse caso, o contribuinte pode deduzir os aportes do cálculo do IR, até o limite de 12% da renda bruta.
O segundo passo é escolher o modelo de tributação, ou seja, a forma como o imposto será descontado na hora do resgate. Há, também, dois modelos. A tabela regressiva é indicada para quem tem uma visão de longo prazo. A alíquota de IR varia de 35%, caso o saque seja feito em até dois anos, a 10%, para quem ficar no plano mais de dez anos. Outra modalidade é a alíquota progressiva, que varia de acordo com o valor do resgate. Nesse caso, o tempo de aplicação não importa. Quem sacar até R$ 1.710,78 é isento de IR. Mas as alíquotas vão subindo de acordo com o valor, podendo variar de 7,5% a 27,5%.
— A previdência é o investimento tributado com a menor alíquota de imposto sobre rendimentos do mercado. A tabela regressiva vai de 35% a 10% ao fim de um prazo de dez anos. Não tem come-cotas, que é o recolhimento semestral de IR sobre os rendimentos das aplicações em fundos de investimentos. E, dependendo do rendimento, pode ser mais atraente que os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e as letras financeiras. Mas a previdência é de longo prazo, para complementar a aposentadoria — explica Felipe Beltrão Rodriguez, consultor financeiro.
É preciso ainda observar o perfil do plano. Hoje, os bancos oferecem planos que investem em fundos de renda fixa, mais conservadores, com risco menor. Há ainda opções em que parte dos recursos é aplicada em ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Jorge Nasser, diretor-geral da Bradesco Vida e Previdência, ressalta que o investidor deve contratar o plano que melhor combine com seu perfil. O banco, que registrou no primeiro semestre aumento de 17% na carteira, tem hoje 2,3 milhões de clientes nesse segmento.
Dono de um plano VGBL de perfil conservador, o designer gráfico Diogo Tirado explica que ainda não decidiu se vai sacar a sua previdência privada no final da contribuição (aos 60 anos) ou receber uma mensalidade vitalícia:
— Vou esperar que o INSS divulgue as novas regras e ver como a economia do país vai se comportar nos próximos anos.
No Itaú, o aumento na procura pelos planos chegou a 10%. Em relação aos recursos aplicados, o crescimento foi de 20%. Cláudio Sanches, diretor de Produtos de Investimento e Previdência do Itaú Unibanco, destaca haver planos para todos os perfis, como os que investem apenas em títulos específicos do Tesouro e os multimercados. Nesse caso, alertam economistas, o investidor deve saber que, em determinados meses, é possível haver rentabilidade negativa.
— O mais importante é que a previdência é de longo prazo. Hoje, 90% da procura é por fundos de renda fixa — destaca Sanches.
Segundo Marcos Figueiredo, superintendente do Santander, o volume de aportes este ano dobrou. Ele ressalta que o cliente deve sempre perguntar ao gerente do banco em quais fundos os planos de previdência estão sendo aplicados. Ele cita o caso dos de renda fixa, que têm papéis prefixados e pós-fixados (que acompanham a taxa de juros):
— O importante é o cliente ter uma visualização do que tem na carteira. Houve aumento de fundos cuja carteira tem títulos do Tesouro. É preciso uma leitura de longo prazo. Cada cliente tem um perfil. As pessoas já perceberam que não vão ter mais a mesma previdência que seus pais e avós.
Rosana Techima, diretora de Previdência da Caixa Seguradora, lembra que a média de idade de quem busca planos privados caiu de 55 para 40 anos. Ao citar um crescimento de 30% no volume de contratação no primeiro semestre do ano, Rosana lembra que o investidor deve ficar atento, ainda, às taxas cobradas pelos bancos. Há a taxa de gestão, que funciona como uma taxa de administração, cujo valor oscila entre 1% a 3% ao ano. Além disso, há a taxa de carregamento, que pode ser cobrada por depósito ou na hora do resgate dos recursos.
— Desde 2012, a Caixa decidiu não cobrar mais taxa de carregamento para as aplicações que ficam acima de 36 meses — conta Rosana.
Para Nelson Katz, diretor de Planejamento e Controle da Brasilprev, o país ainda está criando uma cultura de previdência. Ele cita o avanço de 13,5% na arrecadação no primeiro semestre:
— Os brasileiros estão cada vez mais se preocupando com sua poupança de longo prazo.
Fonte: “O Globo”.
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