A poucos dias das eleições é importante um retrato do momento que vivemos.
Pelo mapa eleitoral, baseado em pesquisas como da Datafolha (ver tabela ao fim), o que se tem é Jair Bolsonaro do PSL na dianteira, entre 28% e 30%, mesmo com elevada rejeição, em torno de 40%. Importante observar, porém, que pela pesquisa da semana passada do Ibope, ele se tornou mais competitivo num hipotético segundo turno, equilibrando contra todos os adversários diretos. Antes do atentado em Juiz de Fora, ele perdia para todos, só rivalizando com Fernando Haddad. Este, aliás, vem crescendo bastante, o que retrata a forte transferência de votos do ex-presidente Lula, que deve continuar em menor intensidade nas próximas semanas. Esta pesquisa Datafolha indicou que 47% dos eleitores ainda não o conhecem. Por outro lado, em sintonia ao seu crescimento, aumenta sua rejeição, já acima de 30%.
Sendo assim, vai se configurando um quadro de polarização entre extremos para as eleições presidenciais deste ano. De um lado, um candidato de esquerda, com discurso revanchista e que mais parece querer resgatar a malfadada agenda econômica do segundo ciclo petista. Do outro lado, um candidato de direita, flertando perigosamente com o confronto e o retrocesso institucional. Poderíamos “dourar um pouco a pílula” considerando-o uma resposta da sociedade ao retrocesso dos últimos anos. No meio do caminho, uma crise de valores se aprofundou, se espalhou por todos os setores da sociedade, refletindo maior descrença entre as instituições e na classe política. Poucos acreditam nos discursos dos candidatos atuais e muitos se apoiam nos que apresentam soluções mais rápidas e indolores, visando agradar aos mais pobres ou aos mais indignados. No meio disso, as classes mais baixas e média, sempre um vetor. Para nenhum dos lados, no entanto, parece haver uma resposta adequada à crise que vivemos.
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Claro que ambos os candidatos, na frente das pesquisas, tentam responder as demandas existentes. Estas refletem um desemprego de 13 milhões de brasileiros, o aumento das taxas de pobreza, a crise ética e moral e o açodamento de posições. É neste momento que candidatos populistas, aqueles com soluções fáceis e simplistas, tendem a ganhar espaço. Um com um discurso único, muitas vezes truculento, contra a crise moral que vivemos , outro, que cria suas próprias versões para escamotear o que de fato aconteceu ao País nos últimos anos, quando foi governo.
Em recente entrevista, Fernando Haddad do PT, disse que grande parte da recessão de 2014/2015, depois da eleição de Dilma Roussef, foi provocada pela intolerância da oposição e de parte do Congresso, que não deixaram a presidente adotar as medidas necessárias. Segundo o professor da PUC/Rio Rogério Furquim Werneck, ao criticar este discurso de “realidade paralela” e revanchista do PT, “a brutal crise econômica não teria decorrido dos monumentais erros do PT de Dilma, mas de uma conspiração do PSDB e do PMDB, que teria inviabilizado seu segundo mandato”. Segundo Werneck, “irredutível que está na negação dos erros de Dilma, Haddad mostra-se pronto a voltar a cometê-los, ao adotar um programa de governo que parece ter saído do mesmo laboratório em que foi concebida a desastrosa “nova matriz econômica”. Tampouco parece haver disposição da parte de Haddad de reconhecer os erros que acabaram deixando o PT no centro da Lava-Jato e operações similares.” Todos os populistas abusam disso, da criação de um mundo paralelo e suas próprias versões da realidade.
Pelo lado do candidato conservador as coisas não são mais fáceis. Suas considerações preconceituosas, ruídos desnecessários junto a segmentos da sociedade, e o total desconhecimento sobre vários temas da agenda de um governo, lançam mais dúvidas do que certezas sobre sua governabilidade. Na semana passada, as coisas ainda se tornaram mais tensas, depois de declarações, truncadas ou não, do vice-presidente general Hamilton Mourão, e do economista Paulo Guedes.
Diante deste extremismo, já começam a surgir movimentações em defesa de uma “terceira via”, de uma alternativa mais de centro, equilibrada, defensora de uma agenda que se coadune com a economia de mercado e a urgência das reformas estruturais. Na opinião do presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso (FHC), é preciso deter esta “marcha da insensatez”.
Movimentos estes que pensam na migração pelo voto útil, de todos os candidatos menores, como Henrique Meirelles (MDB), Álvaro Dias (Podemos), João Amoedo (Novo), além de Marina Silva (Rede), para um candidato mais simpático ao mercado e próximo ao bloco da frente. A opção aqui, então, seria Geraldo Alckmin do PSDB. Ele, no entanto, mesmo com todos os “apoios”, recursos de fundos eleitorais e tempo de mídia, não vem emplacando, se mantendo na faixa dos 9%. Até chegou a ensaiar alguma reação no início do horário eleitoral, mas depois empacou e atualmente se encontra em quarto lugar. Alguma debandada, aliás, vem ocorrendo, deste arco de apoios. No Rio Grande do Sul políticos do partido da candidata a vice Ana Amélia (PP), já começaram a debandar para Jair Bolsonaro.
Na opinião de FHC, “deve se buscar a coesão política, com coragem para falar o que já se sabe e a sensatez para juntar os mais capazes, evitando-se que o barco naufrague”. Há aqui a leitura de que um salvador da pátria não tem espaço no momento grave em que vivemos. Apesar disso, a repercussão, ao que parece, não foi boa, com a maioria dos candidatos citados rejeitando este chamamento à união.
O fato é que o ideal para o país seria encontrarmos uma saída negociada, consensual para enfrentar o momento de grave crise que vivemos. Uma “terceira via”, uma ponte, um candidato, outsider que seja, mas com livre trânsito no mundo político e que conseguisse reunir apoios da sociedade. Quem decide isso, no entanto, é o eleitorado e pelo jeito este candidato não existe, pelo menos com a força política esperada. Se nada de diferente acontecer, caminhamos, infelizmente, para uma eleição polarizada do “nós contra eles”. Apertem o cinto.