A diversidade ideológica, com o debate de ideias entre diferentes posicionamentos no meio acadêmico, é o caminho para o avanço da sociedade. Essa é a tese e o objeto de estudo do mestre em História da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Pedro Franco. Em entrevista ao Instituto Millenium, Franco abordou o assunto. Ouça!
De acordo com Pedro Franco, a inovação científica e o progresso intelectual dependem sempre de que as perspectivas concorram umas com as outras. “Acredito que a academia e o progresso científico perdem se não existir a diversidade de pensamento. Se você quiser avaliar o problema por todos os ângulos possíveis, o ideal é que as pessoas estejam dispostas a analisar pelos diversos ângulos possíveis”, disse.
O mestre em História da Cultura citou um exemplo prático de pesquisa que poderia ser enriquecida se houvesse maior diversidade. “Outro dia discuti com alguém que fez uma dissertação sobre as ações afirmativas, defendendo as cotas. Eu perguntei para o aluno de Direito se algum dos professores ou dos colegas com os quais ele colaborou era contra, e a resposta foi ‘não’. Certamente, ainda que essa pessoa continuasse a favor das cotas, desenvolveria um argumento melhor se tivesse tido contato com alguém contrário, porque levaria o ponto de vista dessas pessoas em conta. Isso contribuiria para uma defesa melhor”, afirmou.
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Franco – que está pesquisando iniciativas para fomentar a diversidade ideológica e a tolerância política no meio acadêmico – abordou a importância dessa pluralidade para o ambiente de investigação científica. “Se você não tem uma noção apropriada dos pontos de vista que vão contra o seu próprio, pode criar um argumento falho em muitos sentidos, sem levar em conta as perspectivas e dados que as pessoas motivadas a irem contra a sua visão poderiam apontar. Isso é sempre bom, não tem um lado ruim”, destacou.
Desafio a ser enfrentado
De acordo com o mestre em História da Cultura, ainda não há um mapeamento em termos quantitativos e qualitativos, muito em função de ser difícil realizar uma definição clara de todos os espectros ideológicos em um país cuja democracia é relativamente jovem, como o caso do Brasil. No entanto, há uma percepção de um desequilíbrio, especialmente em cursos de ciências sociais e humanas, onde a política é muito recorrente. “O lugar comum que mais se escuta é que a faculdade favorece pontos de vista da esquerda, e que a direita não está muito presente. Creio que essa avaliação ainda está para ser feita. A gente escuta relatos de intolerância, falta de diversidade, mas ainda há muitas perguntas em aberto”.
No entanto, Franco adverte: não dá mais para fechar os olhos para esta situação. “A intolerância às opiniões divergentes, apesar de não ter sido apropriadamente reconhecida pela comunidade acadêmica, é um desafio a ser enfrentado. Um único relato bastaria para provar que essa questão existe em algum grau, mas há vários relatos, cada vez com maior frequência; e diversas iniciativas surgindo sobre esse tema. A questão é como resolver, mas, que o problema existe, está além de qualquer contestação”.
A necessidade de mais tolerância é ainda maior em um ambiente que tende a ser extremamente polarizado, como o do Brasil. “Os polos mais extremos, mais combativos, são os mais dispostos a fazer barulho, e são eles que estão chamando a atenção. Isso se aplica à política institucional e à academia. O exemplo mais recente foi o do ex-presidente Lula, que sem dúvida vai acirrar ainda mais os ânimos no âmbito político eleitoral. Na academia, você vê essa polarização se intensificando também. Esse debate que eu estou propondo se tornou polarizado porque as iniciativas que existem para lidar com o problema se declaram associações de direita, ao passo que não existe iniciativa dentro da universidade que agregue professores de diferentes posições ideológicas que reconheçam o valor da diversidade intelectual”, disse.