A ausência da diversidade política é um problema enfrentado no mundo todo, incluindo no Brasil. Esta falta se faz presente tanto na questão do ensino, voltada para ideias plurais capazes de melhorar a qualidade da educação prestada por determinada instituição; como também no preparo dos alunos para conviver com opiniões distintas às suas.
Para estimular este debate, o Instituto Millenium está lançando uma série de vídeos que mostra a atual situação das universidades no que diz respeito à diversidade política e ideológica. Pedro Franco, comunicador social e Mestre em História Social da Cultura pela PUC-Rio, esclarece que, no Brasil, esta discussão é escassa entre as instituições de ensino, o que explica uma dificuldade em encontrar estudos e pesquisas que se dediquem aos efeitos da falta desta diversidade na qualidade da educação. Assista ao primeiro episódio abaixo!
Estudos feitos em outros países traçam alguns efeitos drásticos da falta da diversidade na educação superior. “Ela afeta a qualidade da pesquisa acadêmica em várias áreas; transforma certos assuntos e temas em tabus; faz com que professores e alunos tenham receio de expressar sua opinião e comecem a se censurar; acirra a polarização por fomentar a radicalização; além de diminuir o prestígio da universidade por produzir uma desconfiança do público em relação aos vieses que podem estar agindo, o que aumenta a chance de corte de verbas e todo tipo de desvalorização da educação superior”, pontua Franco.
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Pedro Franco: Diversidade de opiniões qualifica debate no meio acadêmico
O que dizem os números?
Embora ainda escassas no Brasil, pesquisas norte-americanas podem nos ajudar a entender o atual cenário das universidades. Segundo Pedro Franco, alguns estudos comprovam a ideia presente na opinião pública de que a academia é dominada por pessoas ligadas à “esquerda”.
“Os números podem variar dependendo da metodologia aplicada, mas há um consenso de que, entre o total do corpo docente americano de educação superior, você encontre um de direita para cada dez de esquerda – Muito diferente da população em geral, onde é geralmente de igual para igual. Só no departamento de ciências sociais e humanas, essa estimativa de dez para um vira, em muitos casos, 30 para um, 50 para um e até 100 para um, dependendo da disciplina. Um estudo feito entre 60 faculdades bem avaliadas nos Estados Unidos viu que, em quase metade dos departamentos, você não encontrava nem um professor de direita sequer”, mostra Franco. De acordo com o especialista, “A diversidade política está em falta justamente nos departamento em que há mais relevância”.
Qual é a solução?
Fazer com que a comunidade científica comece a enxergar a falta da diversidade política como um tema relevante não é uma tarefa fácil e exige respostas complexas. No entanto, este caminho, além de melhorar a qualidade do ensino, também nos ajudaria a lidar melhor com a polarização presente na sociedade como um todo.
Para Pedro Franco, o discurso de que o professor deveria ser neutro não é tão simples, já que, como ser humano, esse indivíduo possui crenças e opiniões próprias:
“Claro que ele pode e deve tentar ser o máximo justo e honesto sobre suas interpretações, mas neutralidade absoluta, em algumas disciplinas, é um ideal inalcançável. Algo que você pode cobrar é que dentro de um grupo de professores haja vieses diferentes e conflitantes que possam, por assim dizer, cancelar uns aos outros e obrigar que os membros daquele departamento levem em conta, respeitem e sejam honestos a respeito das demais interpretações que existem sobre um assunto”, sugere.