Falta de vagas nas enfermarias, superlotação em emergências, falta de tomógrafos, dívidas com as organizações sociais e atraso no pagamento de salários de funcionários. O panorama das unidades geridas pelo município do Rio de Janeiro demonstra o tamanho da crise. Na atenção básica, funcionários fizeram ontem um duplo protesto: contra a falta de pagamentos e o corte de R$ 725 milhões anunciado pela prefeitura para a pasta em 2019.
O “Globo” apurou que, de janeiro a outubro deste ano, a prefeitura deixou de repassar pouco mais de R$ 300 milhões às organizações sociais da saúde, que são responsáveis pela administração de unidades básicas, UPAs e hospitais da rede municipal.
Nos hospitais, 388 leitos de enfermaria estavam impedidos (quando não podem ser ocupados) em nove hospitais. É como se tivesse sido subtraída toda a enfermaria do Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, que conta com 386 leitos. E a consequência do fechamento de vagas é a superlotação em quase todas as emergências. No Hospital Souza Aguiar, nove pessoas estavam ontem na sala vermelha, onde ficam os pacientes mais graves, que só tem quatro leitos. E a sala amarela adulta, com capacidade para 18 pessoas, tinha 35.
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14 leitos, 63 pessoas
Em outro importante hospital, o Miguel Couto, na Gávea, cuja sala vermelha dispõe de quatro leitos, sete pessoas estavam internadas, e 14 ocupavam a sala a amarela, com apenas nove leitos. No Salgado Filho, nove pacientes estavam na sala vermelha, embora em tese ela só disponha de quatro leitos.
O problema de vagas não é o único obstáculo. Relatos de falta de pagamento em unidades geridas por organizações sociais se multiplicam, diante do atraso dos repasses do município. Oito UPAs (Madureira, Engenho de Dentro, Magalhães Bastos, Vila Kennedy, Costa Barros, Paciência, Sepetiba e Santa Cruz) e três hospitais (Ronaldo Gazolla, Evandro Freire e Albert Schweitzer) estão com salários atrasados — ontem, a prefeitura liberou R$ 12,4 milhões para o pagamento, que, até o início da tarde, ainda não tinham sido depositados.
Na atenção básica, funcionários de centros municipais de saúde e Clínicas da Família também convivem com os vencimentos atrasados. Quem trabalha nessas unidades na AP 3.2, que inclui bairros como Méier, Engenho Novo, Piedade e Abolição, não recebeu o salário este mês. A situação também é difícil na AP 1.0 (Região Portuária, como Caju, Santo Cristo e Gamboa), onde apenas 10% dos vencimentos foram depositados. Já na A.P 3.3 (Irajá, Vila da Penha e Vicente de Carvalho), apenas 32% dos salários foram quitados, e, na AP 5.2 (Campo Grande, Santíssimo e Senador Vasconcelos), 42% do total.
Essa situação motivou ontem um protesto em frente à sede da prefeitura, que chegou a interditar a pista lateral da Avenida Presidente Vargas, no sentido da Candelária. Na pauta, além dos salários atrasados, uma previsão de um novo corte que deve acontecer, até a próxima sexta-feira, na equipe de profissionais da atenção básica.
— Nesta terça-feira, inicialmente, teria uma audiência pública na Câmara de Vereadores para analisar o orçamento da saúde ( proposto na Projeto de Lei Orçamentária de 2019 ). Ela foi transferida para o dia 30, mas resolvemos manter o ato contra a proposta do prefeito de reduzir a verba para a área e as demissões na saúde básica, que já estão acontecendo — afirma Alexandre Telles, diretor do Sindicato dos Médicos do município do Rio (Sinmed-RJ).
Até esta terça-feira, o sindicato recebeu informações sobre demissões nas Clínicas da Família Fazenda Botafogo, em Acari, e Carlos Cruz de Lima, em Colégio, e no Centro Municipal de Saúde Clementino Fraga, em Irajá, onde até funcionários da limpeza foram desligados.
Em nota, a Secretaria municipal de Saúde informou que os repasses para as OSs de hospitais e da atenção primária estão em processo de regularização.
Fonte: “O Globo”