O economista Alexandre Schwartsman diz que, pelo menos “do ponto de vista prático”, a economia brasileira já perdeu o grau de investimento. “Quando se olha particularmente o risco país do Brasil, ele não é mais consistente com o de uma economia considerada com grau de investimento”, afirma. A seguir os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.
O Estado de S. Paulo: Qual o risco que essa decisão da S&P representa para a economia brasileira perder o grau de investimento?
Alexandre Schwartsman: Do ponto de vista prático, o país já perdeu o grau de investimento. Quando se olha o risco país do Brasil, ele não é mais consistente com o de uma economia considerada com grau de investimento. Estamos pagando juros lá fora de um país que não é grau de investimento. Não tem ainda a formalização da coisa, que há efeitos muito mais políticos do que econômicos.
O Estado de S. Paulo: Quais fatores levaram a essa decisão da S&P?
Schwartsman: A S&P diz que o país cresce pouco e, por crescer pouco, tem dificuldade de fazer a parte fiscal. E existe um problema político sério. Concretamente, o Brasil está na marca do pênalti da S&P. O país está um grau acima (da nota especulativa) e com perspectiva negativa. No fim deste ano e começo do ano que vem, a gente está contemplando a possibilidade de, pelo menos, a S&P colocar a economia brasileira abaixo do grau de investimento.
O Estado de S. Paulo: Qual será o impacto dessa decisão desta terça-feira?
Schwartsman: Acredito que gera um efeito para as demais agências. Na Moody’s e Fitch, o país está dois graus acima, mas com perspectiva negativa em ambas. O risco é de que, quando sair a decisão da próxima (agência), não tenha apenas o rebaixamento, mas a manutenção de uma perspectiva negativa. Isso é importante pelo seguinte: os fundos (que trazem recursos para o país), em geral, precisam de duas agências dizendo que uma economia é grau de investimento e se há o risco de rebaixamento nas três…
O Estado de S. Paulo:A equipe econômica tentou um ajuste maior, mas não conseguiu. O que faltou?
Schwartsman: No caso da S&P, eles reconhecem que o país mudou a orientação de política macroeconômica. A agência fala do ajuste fiscal, da questão de corrigir os preços administrados e do esforço do BC de trazer a inflação para a meta. O que a agência está dizendo é o seguinte: existe uma intenção em fazer tudo isso. Mas entre a intenção e a entrega dos resultados, há uma série de passos intermediários, como aprovar muita coisa no Congresso. E uma vez aprovada, o governo tem de botar essas coisas para funcionar.
O Estado de S. Paulo: Quais seriam os impactos de um possível rebaixamento?
Schwartsman: Do ponto de vista estritamente econômico, esses impactos já aconteceram. O que eu acho que pode ter é o seguinte: no dia em que vier o rebaixamento, esse negócio vai para a manchete de todos os jornais e isso causa um dano adicional à questão política.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 29/7/2015
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