O registro é de Tony Judt, em “Passado imperfeito: um olhar crítico sobre a intelectualidade francesa no pós-guerra” (1992): “Toda uma geração de intelectuais franceses foi tragada pelo vórtice do comunismo. Seu engajamento político trouxelhes um pesado custo moral. Não podemos ler sem constrangimento sua ambivalência moral e sua leniência diante do sofrimento humano e da violência comunista. Escreveram e disseram muitas coisas surpreendentemente tolas. Por que defenderam posições tão estúpidas? Como permaneceram tão preeminentes e respeitados? O que os cegou às coisas que estavam diante de seus próprios olhos? Interesso-me por sua notável falta de preocupação com a ética pública ou com a moralidade política. Este livro é um ensaio sobre a irresponsabilidade intelectual, um estudo sobre a condição moral da intelligentsia na França do pós-guerra.”
A formação de uma tribo ideológica e sua parcialidade inescrupulosa em avaliações relativas a questões de justiça, de moralidade, de terror e de violação dos direitos individuais sofre agora um julgamento da História. O mesmo olhar histórico haverá um dia de se derramar sobre nossas práticas políticas contemporâneas. A condescendência com malfeitos, quer no julgamento do mensalão, quer nas investigações da CPI do Cachoeira, poderá ser futuramente condenada como cumplicidade.
A reunião de homens em grupos é biologicamente compreensível. Nossos congressistas seguem práticas milenares. “O tribalismo é um atributo fundamental da condição humana. Nesse sentido, todos os grupos modernos descendem de bandos de hominídeos primitivos. Defendem-se visceralmente de grupos rivais. Lutam por supremacia”, explica o notável biólogo naturalista Edward O. Wilson, em “A conquista social da Terra” (2012).
Ambas as tribos, os intelectuais franceses no pós-guerra e nossos atuais congressistas brasileiros, admitiremos, trabalhavam com as melhores intenções. Lá em nome da solidariedade, aqui da governabilidade, mas sempre em busca de uma sociedade melhor. O problema é que não bastam as boas intenções quanto aos fins. Os meios são também importantes, como bem demonstrado por experimentos totalitaristas à “esquerda” e à “direita”. Lei de Acesso à Informação, Comissão da Verdade, CPI do Cachoeira e julgamento do mensalão: a transparência nos assuntos públicos é uma exigência da Grande Sociedade Aberta em construção.
Fonte: O Globo, 18/05/2012
“a transparência nos assuntos públicos é uma exigência da Grande Sociedade Aberta em construção”.
Lamento mas não percebi ainda nenhuma exigência concreta exceto aquelas manipuladas pela tribo do “politicamente correto”, do tipo VETA TUDO, DILMA para o código florestal. Não ouvi voz de lideranças nem foto de artista exigindo “APURA TUDO, DILMA” para os casos Cachoeira e Mensalão.