RIO – Antes reduto de tranquilidade em meio à crise na segurança que assola o Estado do Rio, nem mesmo os shoppings têm escapado da onda de violência. Um levantamento com base em dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), obtidos via Lei de Acesso à Informação, revela que o Rio registrou, entre janeiro e abril deste ano, 70 roubos no interior de centros comerciais, numa média de uma ocorrência a cada 40 horas aproximadamente. Na comparação com o mesmo período de 2016, quando houve 36 casos, o índice praticamente dobrou: alta de 94%.
A capital, onde estão 39 dos 67 shoppings em operação no estado, concentra a maior parte dos assaltos: 50. Na sequência, vêm Caxias e São Gonçalo (com seis cada um), Meriti (com quatro) e Campos (com dois). Por fim, Magé e Nova Iguaçu tiveram um roubo em shopping cada no período em questão.
Na análise foram contabilizados todos os casos em que, ao fazer o registro de ocorrência, o policial indicou como local a opção “shopping center”. Desse modo, a estatística não inclui apenas assaltos a estabelecimentos comerciais, mas qualquer tipo de roubo — a pedestre, de celular, de veículo etc. Também entraram na conta dois roubos seguidos de morte, ambos referentes a PMs assassinados em janeiro, um no Tijuca Off Shopping e outro no Jardim Guadalupe, ambos após tentativas de assalto a joalherias.
Os crimes já ligaram o sinal de alerta entre os empresários. O grupo BRMalls, responsável por dez espaços no estado, reforçou o efetivo em suas unidades. Já a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) informou que criou um comitê especial de segurança para lidar com a situação no Rio.
Os roubos em shoppings no Rio – Editoria de Arte
MAIS ASSALTOS À NOITE
Embora não costumem funcionar durante a madrugada, os shoppings do Rio viram alvo de bandidos até mesmo depois da meia-noite — foram cinco casos, nos quatro primeiros meses do ano, ocorridos entre 0h e 5h59. A predominância, porém, é do período noturno, que responde por 45,7% das ocorrências nos quatro meses analisados, quase empatando com a soma entre a manhã e a tarde.
No recorte apenas da capital, dois pontos despontam como mais afetados pela violência, com oito assaltos cada (média de dois por mês, portanto): o Centro da cidade e a Barra da Tijuca.
CLIENTE PODE SER RESSARCIDO
Especialistas explicam que, caso seja vítima de roubo dentro de um shopping, o frequentador pode acionar os responsáveis pelo espaço em busca de ressarcimento. Contudo, a advogada Janaína Alvarenga, da Associação de Proteção e Assistência aos Direitos da Cidadania e do Consumidor (Apadic), diz que isso só é possível se for comprovada alguma falha na segurança ou omissão do estabelecimento que tenha contribuído para o crime:
— É muito difícil determinar se o shopping teve influência direta em casos de roubos e tiroteios. Cada situação precisa ser estudada com cautela. Além disso, na atual conjuntura de violência do Rio, esses registros de violência são uma questão de Estado, e não de responsabilidade do setor privado.
Para Alexandre Judkiewicz, diretor nacional de operações do Grupo GR, especializado em segurança patrimonial, a responsabilidade não necessariamente recai sobre os administradores do shopping, que só respondem pelas áreas comuns. Se o crime ocorre numa loja, por exemplo, o cliente deve interpelar o próprio comerciante:
— A obrigação de ressarcir só não ocorre caso a vítima tenha agido com imperícia ou negligência, deixando uma sacola desacompanhada em uma mesa, digamos.
COMO SE PREVENIR
Além dos 70 roubos, os shoppings do estado foram palco de 554 furtos no primeiro quadrimestre do ano, média de quase cinco casos por dia. Para diminuir a chance de se tornar vítima de um crime no momento de compras ou lazer, os clientes podem tomar algumas precauções simples. “Quanto melhor for a segurança, mais descuidado fica o cliente”, brinca Alexandre Judkiewicz.
OLHO NOS PERTENCES
A primeira dica é estar atento aos pertences: os levados de casa e os recém-comprados. Nada de abandonar a sacola em cima da mesa para guardar lugar na praça de alimentação enquanto busca a refeição, por exemplo. Também é comum que, ao entrar em provadores, mulheres deixem a bolsa num canto da loja. “Cuidado com as próprias coisas é fundamental”, diz Judkiewicz.
NO ESTACIONAMENTO
No estacionamento, sempre confira se o carro foi efetivamente trancado. Alguns criminosos utilizam bloqueadores de trava para depois efetuar furtos. Então, a recomendação é dar a boa e velha puxadinha na maçaneta.
Entrevista com o especialista em em gestão de segurança em shoppings Alexandre Judkiewicz
COMO PROTEGER UM SHOPPING?
É um lugar privado, mas com acesso público irrestrito. As pessoas têm o direito de ir e vir. E a segurança lá dentro é particular, com restrições legais. Não pode fazer papel de polícia.
COMO RESOLVER A QUESTÃO?
Sobretudo, causando a sensação de segurança, distribuindo recursos — câmeras, vigilantes etc — de modo que o frequentador se sinta tranquilo. Ao mesmo tempo, fazer a segurança em si, que pode ter homens à paisana, por exemplo.
E SOBRE A LOCALIZAÇÃO DAS LOJAS?
Afastar lojas como joalherias da entrada faz sentido. O bandido tem o elemento surpresa, mas fica mais vulnerável se está mais longe da saída. Só que os shoppings vivem nessa competição maluca, então todos querem estar onde há mais fluxo. Mas aí é preciso redobrar a segurança.
Fonte: “O Globo”
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