O mundo científico usa a expressão do título, para a síndrome de cientistas de determinada área que desenvolvem fortes opiniões sobre tudo pelo mundo. Lula, Dilma e seus conselheiros adquiriram tal síndrome.
Lula, o PT e a presidente Dilma acham que o Brasil foi refundado em 2003 com governança perfeita desde então. Mas o relatório de Governança do Banco Mundial (Brasil 1996-2013) usando 20 conhecidas instituições pelo mundo mostra que a governança do PT (2003-2013) cai em cinco dos seis indicadores agregados (prestação de contas, violência, eficiência governamental, qualidade da regulamentação, corrupção). Ironicamente, o único indicador que não cai (estado de direito) é o que o PT luta tenazmente para que caia, protegendo seus corruptos, enquanto o Judiciário brasileiro mostra a um PT raivoso que a lei é igual para todos.
Os governos Lula em 2007 e Dilma deram fortes guinadas ideológicas em direção às suas origens e a vaca foi para o brejo. Realidade não respeita ideologia. Agora estamos em recessão, inflação alta, carga fiscal absurda concentrada sobre os pobres e investimentos baixíssimos. Precisamos de correção de rumo, para o bem dos pobres. Leiam as convicções de alguns conselheiros de governos, que não são adversários do PT:
Paul Volcker (ex-presidente do BC americano) sobre política monetária: “Nos anos 60 e 70, um pouco de inflação era considerada coisa boa, como parte da doutrina keynesiana. Eu nunca concordei. Mas tudo mudou drasticamente nos anos 80, o que possibilitou-me fazer o que fiz. Desde então, inflação é algo péssimo e o papel do Banco Central é evitá-la. A doutrina agora é ter um Banco Central independente, com mandato de metas de inflação perto de zero.”
Paul Krugman (Nobel de Economia 2008) sobre política fiscal: “Governos responsáveis não impõem alíquotas dirigidas a particulares indivíduos ou empresas ou especiais isenções fiscais. Um bom sistema fiscal obedece a princípios gerais e deve ser aperfeiçoado por especialistas ao longo do tempo, na direção da política fiscal neutra entre investimentos alternativos e mínima discriminação entre consumo presente e futuro.”
Paul Krugman sobre política industrial: “Deve o governo escolher uma lista de indústrias e ativamente promovê-las? Além do forte argumento teórico contrário, governos têm um terrível histórico no julgamento das indústrias que se tornarão importantes.”
Lawrence Summers (professor de Harvard, ex-assessor de Obama) sobre infraestrutura: “Investimentos em infraestrutura se pagam, portanto podem ser privados. E, quando bem feitos com dívida pública, reduzem o peso da dívida sobre futuras gerações.”
Douglass North (Nobel de Economia 1993) sobre corrupção: “Se numa sociedade a pirataria oferece retornos mais atraentes, as organizações investirão em conhecimentos e especializações que as tornem os melhores piratas.”
Papa João Paulo II, na Encíclica “Centesimus Annum” (1/5/1991) sobre a ordem econômica: “Quando os homens julgam possuir o segredo de uma organização social perfeita que torne o mal impossível, consideram poder usar todos os meios para alcançar tal organização, inclusive a violência e a mentira. Considerações que se refletem no papel do Estado na economia. A atividade econômica, em particular a da economia de mercado, não se pode realizar num vazio institucional, jurídico e político. Pelo contrário, supõe segurança às garantias da liberdade individual e à propriedade, além de moeda estável e serviços públicos eficientes. A principal tarefa do Estado é portanto, a de garantir esta segurança.”
Fonte: O Globo, 26/10/2014
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