Precisamos aprender uma nova expressão e incorporá-la a nosso debate público: população envelhecente – em inglês, “aging population”. E precisamos aprender rápido porque tempo é justamente a questão. A população envelhecente é o problema que aflige de modo bastante sério Europa, Rússia e Estados Unidos, mais avançados na curva de envelhecimento populacional que Índia, África do Sul e Brasil, para citar apenas algumas nações mais jovens. Mas o Brasil que se cuide.
Com os brasileiros tendo menos de dois filhos por casal, a população de crianças começa a perder a dianteira em relação à de idosos, cuja vida vai ficando cada vez mais longa (felizmente!). Ao mesmo tempo, reduz-se a pressão pela expansão acelerada na quantidade de creches e escolas, por exemplo (podemos concentrar os esforços em melhorar a qualidade desses serviços). Essa equação tem, todavia, um lado ruim. Queda de fecundidade e maior longevidade tornam a população brasileira envelhecente, e rápido. O problema, como bem resumiu nosso decano Delfim Netto, do alto de sua perspicaz visão econômica, é que “o Brasil vai ficar velho antes de ficar rico” (Folha de S.Paulo, 23-11-09, p. A 16). Nada mais terrível que o vaticínio da pobreza eterna.
O Brasil velho e pobre é a pior das condenações, além de uma grave acusação a nosso modelo de crescimento (isso ainda existe?). É arriscado dar de ombros a oráculos. Mas a previsão de pobreza eterna pode – quem sabe – não se consumar. Para isso, entretanto, algo precisaria mudar radicalmente. A chave está na futura taxa de crescimento do país, que depende do ritmo dos investimentos nacionais.
Ainda podemos considerar o Brasil um caso intermediário, embora o envelhecimento aqui venha ocorrendo a passos acelerados. O grupo de brasileiros com mais de 60 anos, hoje perfazendo cerca de 9,5% de nossa gente, avançará para cerca de 19% em 2030 e 30% em 2050. Os idosos, em geral, deixam de ser economicamente ativos, passando de força de trabalho para a condição de aposentados. Eles deixam de contribuir para a receita do Estado e ingressam no lado da despesa pública, ao receber benefícios previdenciários ou auxílio ao idoso.
Mais impressionante (e já um pouco alarmante) é a queda veloz no ritmo dos nascimentos. Com cerca de 1,7 filho por casal, o Brasil deixou para trás a lógica dos coelhinhos, alusão ao mestre Mário Simonsen, que, em 1970, denunciou em livro a bomba-relógio do crescimento da população. O alto índice de fecundidade da época parecia ameaçar os ganhos do crescimento acelerado da renda. Preconizava-se, então, o planejamento populacional ativo, jamais implementado. Vejam só. A sociedade, ela mesma, inventou “saídas”, como o controle voluntário de filhos, decorrente de fatores diversos como melhora do nível de educação em geral, acesso a contraceptivos e ganho de autonomia por parte das mulheres. Isso não estava na conta dos oráculos econômicos. Saímos de filhos de mais para o dilema inverso, de filhos de menos! Com a projeção de 1,5 filho por casal, não se alcança pagar, até 2030, as contas do INSS, quando os pais desse filho e meio vierem a se aposentar. Sobrarão pais inativos e faltarão filhos para contribuir para a previdência oficial, na qual jamais se poupou. O vaticínio de que ficaremos velhos antes de ficarmos ricos parece se fechar – mas não necessariamente.
Faltou dizer que, nos próximos 20 anos, as últimas levas de brasileiros jovens e numerosos chegarão ao mercado de trabalho. É uma janela de crescimento acelerado, que se abre para o Brasil até 2030. Selaremos nossa sorte até lá. Se o país voltar a crescer na faixa de 6% ao ano até 2020, poderá dobrar a renda per capita e depois dobrá-la de novo até 2035. Terá ficado mais rico do que velho. Contudo, nosso modelo atual, de alto consumo, baixa poupança e pouco investimento, não presta e tende a nos transformar num mar de idosos carentes. Precisamos mudar o “modelo”, e com urgência. Entre essas opções de caminho decidiremos nas próximas eleições de 2010.
(Época – 30/11/2009)
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