A semana foi tensa por conta das crises europeia e americana, mas ambas parecem encaminhadas, com remendos, é verdade, mas dando tempo para que as soluções finais apareçam. No Brasil, pelo contrário, as sinalizações continuam dúbias na política monetária.
Ao indicar que o aumento da taxa de juros está próximo do fim nos faz crer que não é mais possível acreditar em muita coisa que o banco escreve. Vamos por partes.
A crise europeia não chegou ao seu fim. O minidefault que foi concedido à Grécia ainda coloca dúvidas sobre a capacidade de pagamento do país com o novo perfil de dívida criado, especialmente porque o ajuste recessivo que deverá ser feito não será pequeno.
As estimativas vão de 20% a 30% de queda de preços no país nos próximos anos para que se permita recuperar a competitividade perdida. Ou seja, os estimados 21% de haircut feitos agora (pelos números da consultoria GaveKal) podem não ser suficientes para a Grécia manter um fluxo de pagamentos sem risco.
Além disso, mantém-se o suspense sobre como resolver a situação dos outros países em dificuldade, no caso Portugal, Irlanda, Espanha e Itália. De qualquer forma, o paliativo atual pode dar tempo para que se reestruture o pensamento em torno da unificação fiscal na zona do euro, o que pode ser acelerada quando da posse do novo presidente do Banco Central Europeu, Mario Dragui, que parece ser defensor dessa solução definitiva, ao contrário do atual presidente daqueta instituição.
Ao mesmo tempo em que a sinalização de crise impõe decisões duras na Europa, aqui vai tudo pelo contrário.
Sem indicação de crise efetiva no horizonte de curto prazo, o Banco Central continua brincando com as expectativas de inflação e sua velha tese de maior potência da política monetária. Isso se conclui da declaração pós-decisão que coloca um fim para a alta da Selic talvez já na decisão feita agora.
Ou seja, corre-se o risco da Selic estacionar mesmo em 12,5%, o que talvez possa ter maior sinalização com a divulgação da Ata esta semana. Entretanto, cada vez mais os documentos do Banco Central parecem perder valor.
No último Relatório de Inflação parecia que o banco tinha cedido à realidade de uma inflação preocupante. Dava uma esperança de que o processo de alta da Selic ficasse mais longo, o que seria muito bem-vindo.
A declaração da semana passada foi um balde de água fria e apenas mantém a ideia de uma inflação sistematicamente acima da meta nos próximos anos.
A ideia que se aventou de que o Banco Central estaria preocupado com o cenário internacional também carece de fundamento, dado que o problema é doméstico e ainda não aconteceu nenhuma crise efetiva para o banco se antecipar dessa forma.
Enfim, o que parece que será suficientemente prolongado no Brasil será a inflação acima da meta até o fim do governo Dilma. E o pior disso é que é por livre escolha do governo, um verdadeiro retrocesso de política econômica.
Os dois eventos da semana apenas mostram que verdadeiras mudanças na economia ocorrem na maior parte das vezes como resultados de situações extremas de instabilidade.
Fonte: Brasil Econômico, 01/08/2011
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