Graças à nossa educação jesuítica, mais voltada para o classicismo, é impressionante a procura do brasileiro pelo titulo de “doutor”. Não me refiro aos que, pelos estudos, fazem jus a tal. No tratamento diário, basta o individuo ter alguma aparência de status que, é logo tratado de doutor “doutor fulano”, “doutor beltrano”, e por aí vai. Se for chefe de uma organização ou empresa, então nem se fala. Não que isto faça algum mal, mas,mostra nossa preocupação com o “status”. Tem suas explicações. País em que a mancha da escravidão durou tempo demais, os pobres dos escravos sempre se dirigiam ao patrão com este título. Nas regiões do sertão, principalmente no Nordeste, imperava o “coronel”. Geralmente semi-analfabetos, o titulo provinha das terras que possuíam ou do poder eleitoral que tinham. A este respeito, interessante contar historia que já relatei em artigo anterior – ouvi do jornalista baiano Sebastião Nery, protagonizado pelo famoso “coronel” Chico Heráclio do Rego, de Limoeiro, interior de Pernambuco. À época votava-se em cédulas impressas, postas pelo eleitor na urna, em envelopes fechados. Chico Heráclio reuniu seus empregados e lhes entregou, um a um, os envelopes lacrados com as cédulas dos seus candidatos. Um cabra mais ousado resolveu perguntar: “O coronel pode me dizer, pelo menos, em quem eu vou votar?” A resposta veio ríspida e rápida : “Então cabra ignorante, tu não sabes que o voto é secreto?”. Com o voto eletrônico parece que o coronel morreu mas, o coronelismo está “vivinho da Silva”. Foi substituído pelo pelos cartõezinhos de plástico que, dão acesso à Bolsa Família. Salve o Senhor Lula da Silva, o grande “coronel”.
As mostras da herança do “doutorismo”, das diferenças que ainda marcam o dia a dia do brasileiro, estão ainda presentes. Onde, nas nações civilizadas, encontram-se elevadores “sociais” e de “serviço” que, os pobres empregados são obrigados a usar nos edifícios residenciais?
Nas nações desenvolvidas, o titulo de doutor é usado pelos que o conquistaram nas academias. Nos Estados Unidos todo mundo é “Mister” , “Miss” ou “Mistress”. Exceto os formados em medicina, e os que tiraram o “Philosophy Doctor (PHD)”, depois de cumprirem os requisitos necessários.
Por isto é que tenho me batido, em diversos pronunciamentos, pela criação de mais escolas técnicas nos diversos municípios. Isto faria com que industrias procurassem o município para se instalarem, pois ali encontrariam técnicos capacitados para as tarefas. Além de evitarem o êxodo rural, superpopulando as cidades brasileiras, já tão desprovidas de recursos habitacionais. E o verdadeiro técnico não está preocupado com “doutores” e afins.
Parece não ser importante o que estou tratando nestas linhas. Dentro das mazelas sociais que ainda assolam o Brasil, não é, realmente, assunto dos mais relevantes.
Felizmente, noto com satisfação, na mídia, principalmente na televisão, nas novelas e afins, que o preconceito racial vai desaparecendo. Isto é excelente e ajuda eliminar o “doutorismo” e o “coronelismo”. Mas, ainda há muito que fazer. Que os “doutores” e “coronéis” não me levem a mal.
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