Com o valor das ações das empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) minguando a cada mês, devido à recessão da economia, cada vez mais administradores optam pela estratégia de fechar capital. O movimento não se restringe a um setor específico: vai da indústria alimentícia a bancos. Só este ano, já foram aprovados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) seis pedidos de fechamento de capital e cancelamento de registro, e outros seis estão em análise.
No ano passado, apenas cinco registros foram cancelados. E a fila deve crescer. A Estrela, tradicional fabricante de brinquedos, ainda não registrou o pedido, mas pretende fazê-lo. Segundo o presidente da companhia, Carlos Tilkian, a curto prazo não se espera uma recuperação das ações nem do setor de brinquedos, prejudicado pelos anos de dólar em patamar baixo.
— Entendemos que, pelas regras da Bolsa hoje e pelo momento da companhia, faz mais sentido fechar o capital. Daqui a alguns anos, com uma mudança na economia brasileira e no setor de brinquedos, podemos voltar — disse.
Ao fechar capital, a Estrela espera economizar com as taxas de CVM, Bolsa, auditorias trimestrais e publicações de balanço e fatos relevantes. Além disso, a empresa quer evitar os custos de uma operação de aglutinação de ações, já que seus papéis caíram para menos de R$ 1 e há uma pressão da CVM para evitar a presença das chamadas penny stocks (ações baratas demais) na Bolsa — outro fator que deve fazer com que mais companhias peçam o cancelamento de seus registros.
Já foram aprovados este ano os pedidos de cancelamento de registro de Cia. Objetivo, GTD Participações, Cia. Cacique de Café Solúvel, Brazil Hospitality Group (BHG), Indústria Verolme (Ivesa), Banco Industrial e Comercial (BicBanco) e Souza Cruz — sendo que o fechamento de capital destas duas últimas já está em andamento.
A CVM ainda analisa os pedidos de Marina Iracema Park, Arteris, Companhia Celg de Particpações, Banco Daycoval, Redentor Energia e Vigor Alimentos. A Estrela ainda não registrou o seu.
No caso da Vigor, pesou ainda outra questão. A empresa participava do Novo Mercado, mas a pulverização de ações não estava enquadrada nos requisitos de governança corporativo exigidos.
— Como tínhamos de sair do Novo Mercado, resolvemos fechar o capital. Na verdade, queríamos fazer um IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês), mas, diante das circunstâncias do momento no mercado internacional, esse projeto ficou para depois — afirmou o presidente da Vigor, Gilberto Xandô.
Na avaliação de Paulo Funchal, sócio da consultoria Grant Thornton, é natural que em momentos de crise aumente o número de pedidos de fechamento de capital, já que algumas companhias passam a achar que o mercado não vale mais a pena. Foi o caso da British American Tobacco, que decidiu fechar o capital da Souza Cruz em um momento de dólar alto. Na moeda americana, a Bolsa já perdeu neste ano 42,2% de seu valor.
Recompra, opção de 70 companhias
Em muitos casos, empresas que anunciam o fechamento de capital estão com um valor muito aquém do seu recorde histórico. As ações da concessionária de rodovias Arteris, por exemplo, acumulam queda de 56,8% em relação a sua máxima histórica, em 22 de maio de 2013. Desde que anunciou o fechamento de capital, a empresa viu o valor de seus papéis subir 14,9%. Isso costuma acontecer quando os acionistas minoritários veem chance de o valor pago ficar acima daquele estipulado inicialmente pelo controlador — que costuma se basear no valor negociado nos pregões anteriores.
Outra operação utilizada pelos administradores é a recompra de ações. No ano, cerca de 70 já foram anunciadas, entre as quais Banco do Brasil e Ambev. Embora adotar essa estratégia não seja suficiente para recuperar de forma significativa o preço das ações, a operação é vista como positiva do ponto de vista financeiro para as companhias que possuem caixa. Isso porque vão comprar um papel que está em baixa, deixar em tesouraria e depois revender em uma situação melhor.
— É uma janela de oportunidade do ponto de vista de gestão financeira, mas só para a empresa que tem caixa. Mas não adianta querer brigar com o mercado, que é muito maior que a empresa — disse Funchal.
Segundo especialistas, ainda vai demorar para o valor das ações no mercado brasileiro se recuperar. Mesmo aquelas consideradas sólidas e com perspectiva de crescimento estão sofrendo com o ambiente político.
Mas, se a curto prazo a incerteza é grande, a médio prazo a expectativa é que os investidores, em especial os estrangeiros, voltem a olhar para a Bolsa brasileira. James Gulbrandsen, sócio da gestora de recursos americana NCH Capital, diz que os estrangeiros estão atentos às oportunidades, que aumentaram depois do rebaixamento do Brasil pela Standard & Poor’s, pois este deixou o dólar mais caro e a ação em reais, mais barata.
— Tem uma onda de dinheiro lá fora que quer investir no Brasil. Estão só aguardando a resolução da situação política — disse.
Os estrangeiros querem companhias com boa gestão e liquidez. E, como a Bolsa está barata para eles devido à valorização do dólar, é possível encontrar barganhas. Gulbrandsen cita o setor financeiro (grandes bancos, Cielo e Cetip), Drogasil e Ambev.
Frederico Sampaio, diretor de renda variável da Franklin Templeton, concorda. Ele diz que, em meio à turbulência, o Brasil está muito barato.
No ano, o saldo de estrangeiros na Bolsa está positivo em R$ 17,66 bilhões. No entanto, no acumulado do mês até o dia 24, há saída líquida de R$ 205 milhões.
Fonte: O Globo
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