Os mercados, os investidores e o meio empresarial vivem hoje clima de inferno astral, no qual tudo de ruim acontece ou pode acontecer na área política, econômica e social. É uma preocupação que se estende por amplos segmentos da sociedade.
Mas, se as projeções econômicas para 2015 são péssimas e medidas urgentes e eficientes precisam ser tomadas para que os próximos anos sejam melhores, as más notícias embutem ao menos duas boas notícias.
Era inevitável que cedo ou tarde o Brasil sofresse esse experimento chamado “nova matriz econômica”, aplicado no primeiro mandato da presidente. Correntes importantes do pensamento econômico, político e até empresarial o defenderam aguerridamente desde os anos 1990.
Mesmo quando o Brasil crescia a taxas elevadas, a inflação estava controlada, o desemprego caía e a classe média aumentava de forma impressionante, éramos atacados com o argumento de que cresceríamos muito mais se essa nova política fosse aplicada.
[su_quote]As causas fundamentais dos problemas urgentes poderão ser resolvidas se o curso for mantido[/su_quote]
A primeira boa notícia é que o experimento foi tentado quando o Brasil estava forte. Não gosto nem de imaginar o que teria ocorrido se tivesse sido aplicado em 2003. O Brasil hoje está muito mais preparado para resistir a ele, com 120 milhões de pessoas na classe média e 30 milhões nas classes A e B, mercado financeiro forte, desemprego baixo, empresas sólidas, mais de US$ 370 bilhões em reservas e, apesar da deterioração recente, uma dívida pública ainda aceitável em termos internacionais já que ela caiu muito de 2003 a 2010.
A segunda boa notícia é que essa tentativa, inevitável, fracassou de forma brutal, rápida e acachapante e o remédio contra ela já era conhecido. A sociedade brasileira está pagando hoje um custo enorme e lamentável, mas ao menos caminhamos na direção certa.
Há ainda grandes obstáculos e riscos, como o de o ajuste ser abandonado quando o país enfrentar as consequências do aperto fiscal e monetário numa economia em recessão ou o de o ajuste se perder dentro da crise política. Neste último caso, outro mal, a concentração de poder excessivo no Executivo, pode fazer um bem: a maior parte do ajuste só depende do próprio governo.
Portanto, as causas fundamentais dos problemas urgentes poderão ser resolvidas se o curso for mantido e conseguirmos passar por esse período dramático, como costumam ser ajustes dessa dimensão.
Podemos voltar a crescer no ano que vem, embora a uma taxa ainda muito baixa. Mas já com um ganho de aprendizado inestimável: o fracasso do experimento inevitável.
Esse aprendizado deve orientar a busca das soluções de longo prazo para a economia brasileira, discutindo não como o país vai sair da crise, mas como vai crescer a taxas mais elevadas e aumentar o padrão de vida da população.
Fonte: Folha de S. Paulo, 8/3/2015
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