A Bovespa voltou a subir na semana. Mas a verdade é que já existe uma certa desconfiança: afinal, neste ano, a bolsa brasileira já subiu mais de 40%, em reais, e cerca de 70%, em dólares, por causa da desvalorização da moeda americana. Verdade que veio lá de baixo – dos 29 mil pontos do auge da crise -, mas, perto dos 55 mil pontos, o pessoal já se pergunta: E aí, isso é tudo? Ou tem mais?
Como sempre, vale comparar. Primeiro, com os outros países do grupo Bric – Rússia, Índia e China. As bolsas da China, no mesmo período, do início do ano até a semana passada, mostram altas acima dos 50% na moeda local e em dólar, segundo a tabela da revista The Economist. Na Índia, as altas estão na casa de 55%, na moeda local, e em 60%, em dólar. Na Rússia, ganhos equivalentes, perto dos 80% (já que a bolsa russa foi mais fundo).
Visto assim, a Bovespa não está fora do quadro, inclusive no que se refere à valorização do real. A mesma coisa ocorre com outros países que são exportadores de alimentos e/ou commodities e também passam por valorização de suas moedas.
Na Austrália, por exemplo, exportadora de alimentos e minérios, a bolsa subiu pouco menos de 10%, em moeda local, e quase 25%, em dólar.
No Chile, que vive em boa parte de vender cobre, a bolsa valorizou 33%, em moeda local, e quase 50%, em dólar.
De maneira que a questão vale para o Brasil e para muitos outros países: há uma clara recuperação em países emergentes, mas até onde ela vai?
No período de ouro para a economia global, no início deste século, a Bovespa chegou aos 73 mil pontos e, naquele ambiente de confiança cega, muitos diziam que passaria dos 80 mil pontos antes de 2009.
Com a crise, a bolsa brasileira despencou para o buraco dos 29 mil pontos. Agora está beliscando os 55 mil. Seria o ponto de equilíbrio para este momento em que a economia inicia a recuperação, mas continua longe do ritmo pré-crise?
Alguns analistas dizem que a Bovespa estava muito barata, considerando a capacidade que o País e suas empresas mostraram na resistência à crise. Agora, porém, já não estaria barata, mas também ainda não estaria cara.
Tudo considerado, o quadro global é o seguinte: a recessão é mais funda e mais longa na Europa, onde a recuperação será mais demorada; nos Estados Unidos, parece que a recessão será a mais breve entre os desenvolvidos e que será superada mais rapidamente; e entre os emergentes há já uma clara recuperação, mas com todos os indicadores bem abaixo dos níveis pré-crise.
E o dólar? – A história é muito parecida com a da bolsa.
Até a crise, a bolsa tinha uma abundância de dólares. Também entravam Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) – nada menos que US$ 45 bilhões, no ano passado – e o recorde de US$ 196 bilhões em receita de exportações. Nesse ambiente, a bolsa foi a 73 mil pontos e o dólar caiu a R$ 1,56.
Com a crise, houve uma forte saída de dólares, queda de IEDs e de exportações. A bolsa, nas contas finais do ano passado, perdeu o equivalente a R$ 25 bilhões de investidores estrangeiros. Nesse ambiente, foi a 29 mil pontos, enquanto o dólar escalava a R$ 2,50.
Hoje, a bolsa já recebeu de volta R$ 11,5 bilhões de investidores externos e também estão em alta os investimentos diretos – US$ 2,75 bilhões, em maio, por exemplo. Nesse ambiente, temos a bolsa perto dos 55 mil pontos, com dólar em torno de R$ 1,95.
Nesse início de século, já no regime de metas de inflação com câmbio flutuante (modelo introduzido em 1999), o dólar já bateu R$ 4 (em setembro de 2002, no auge do estresse pré-Lula) e caiu para R$ 1,56, no auge do boom econômico.
O que se pode dizer de certo é que a cotação correta não é uma nem outra. Qual seria?
Acertando o prazo – Há um método de pôr as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no prazo: mudem-se os prazos. Por exemplo: em 27 de maio de 2007, o presidente da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias, José Francisco das Neves, disse que o trem-bala Rio-São Paulo estaria com as obras licitadas ainda no final daquele ano ou início de 2008.
No início de 2008 nada estava pronto. Mas o projeto já estava incluído no PAC, com previsão de US$ 11 bilhões de investimentos privados e novos prazos, dados pelo ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento: modelagem do projeto em agosto daquele ano e publicação do edital de licitação em março de 2009.
E o projeto cresceu: de Rio-São Paulo passou a três pernas, de modo a ligar os Aeroportos do Galeão, Guarulhos e Viracopos, em Campinas. Passou março deste ano e também não deu.
Não tem importância. No último balanço do PAC, na semana passada, a ministra Dilma ampliou o prazo. Agora, a licitação será feita “até o final deste ano”. Também adiantou que pensa em criar uma estatal para gerenciar o projeto e que tudo estará pronto para a Copa de 2014. No prazo, cada vez maior, bom para anunciar.
Ameaça? – Sabem o que dizia a resolução da Organização dos Estados Americanos (OEA) que expulsou Cuba do sistema, em 1962? Que a ilha de Fidel era a ponta de lança da ameaça comunista sino-soviética.
Sino-soviética! Comunista!
Os mais jovens nem sequer entendem o que é isso. A China, que está ali no “sino”, continua sendo uma ameaça, mas na competição capitalista. Seus produtos invadem os mercados globais, suas empresas estão comprando companhias pelo mundo afora. Foi uma empresa chinesa que comprou a Hummer, um pedaço da GM.
Do império soviético não sobrou nada. A Rússia, ex-cabeça do império, pouco compete com as Américas. Ao contrário, é freguesa, compradora de carnes brasileiras, por exemplo. A resolução da OEA caducou. A única coisa que continua na mesma é… Cuba – uma ditadura comunista, sob o comando do mesmo Fidel, coisa muito velha.
(O Estado de S. Paulo – 08/06/2009)
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