Aberta ontem pela presidente Dilma Rousseff, a conferência Rio+20 pode ser um momento importante para ampliar as discussões em torno do desenvolvimento sustentável, tema que é fundamental mas que, infelizmente, nem sempre é tratado com a seriedade que merece.
E o pior de tudo é que entre os responsáveis pelas leviandades que muitas vezes cercam esse debate estão organizações que, a princípio, deveriam ser um exemplo de seriedade.
Em nome da defesa de interesses aparentemente nobres, o Greenpeace e outras entidades do gênero são capazes de gestos que, em lugar de ajudar, servem apenas para prejudicar o avanço da causa do desenvolvimento sustentável.
Ontem, por exemplo, a Justiça expediu uma liminar em favor do frigorífico JBS (o maior produtor de carnes do mundo) contra o Greenpeace. A ONG vinha insistindo na acusação de que a empresa adquiria gado criado em terras embargadas pelo Ibama.
A Justiça entendeu que a acusação é mentirosa e determinou que o Greenpeace deixe de mandar panfletos a respeito do assunto para clientes do frigorífico – além de excluir de sua página na internet o conteúdo a respeito do tema.
É esse tipo de gente (que forja argumentos e tenta transformá-los em verdade) que vestirá a fantasia de salvador do planeta e fará barulho na conferência, tentando impor seus pontos de vista aos participantes.
O mundo deve muito às organizações que colocaram o debate ambiental na pauta das discussões muito antes de esse tema ser levado em conta pelos governos e pela própria ONU.
Mas, a partir do momento em que elas exageram na dose, a contribuição se transforma em desserviço.
O Greenpeace e todos os que ainda se opõem à construção de Belo Monte e de outras hidrelétricas na região da Amazônia deveriam fazer uma avaliação sincera do que representa para a região a geração de energia por usinas térmicas com aquela velharia que abastece Manaus.
Pois bem: sem uma fonte de geração de energia mais segura e mais barata do que a atual, a indústria da Zona Franca pode se tornar inviável. E, caso as fábricas sejam fechadas, a população local será obrigada a buscar sua sobrevivência na floresta – e a destruição da mata será inevitável.
A questão do desenvolvimento sustentável, como se vê, vai muito além da preservação do meio ambiente (embora esse aspecto tenha uma importância inegável para a qualidade de vida no mundo).
Ela inclui, em papel de destaque, a necessidade de avanços sociais mais relevantes. O secretário-geral da Rio+20, Sha Zukang, tocou num ponto fundamental ao falar, ontem, sobre o documento que será emitido ao final da conferência.
“Nós precisamos de um documento com propostas ambiciosas e históricas que contenha iniciativas tecnológicas que possibilitem o desenvolvimento sustentável. Temos que transformar nossas aspirações sobre inclusão, prosperidade e igualdade em realidade”, disse ele.
Este é o xis da questão: não se promove o desenvolvimento sustentável olhando pelo retrovisor, nem existe aliado mais fiel do desenvolvimento sustentável do que o avanço tecnológico.
Fonte: Brasil Econômico, 14/06/2012
Quando o senhor diz que quem se opõe à construção de Belo Monte deveria fazer uma avaliação do que representa para a região a geração dessa energia, o senhor não leva em conta que a grande questão não é o porquê esta obra está sendo feita, mas como ela está sendo feita. E aqui, levamos em conta os grandes impactos ambientais, como a remoção de 100 milhões de m3 de material, a inundação constante dos igarapés de Altamira, a destruição da floresta associada à construção da usina, o bloqueio do rio – que reduzirá a vazão de um trecho de 100 km e que poderá até secar, etc. E o mais importante, ou tão importante quanto, é a gravíssima questão social. Não falo só do desalojamento de mais de 20 mil pessoas, mas, também, da ocupação desordenada das áreas do entorno de Belo Monte provocada pela chegada de milhares de trabalhadores diretos e indiretos. Estes dados estão no Relatório de Impacto Ambiental da Eletrobrás http://www.eletrobras.com/elb/main.asp?View={1B18E422-243D-49FA-8F34-5DF7F02011
Entendo o argumento do Sr. Ricardo Gallupo. Ele busca respaldo na mesma teoria com que os ambientalista tentam demonstrar que o desmatamento de uma região irá trazer prejuízos ambientais de uma magnitude muito maior do que o originado por esta ação. É a teoria de sistemas dinâmicos que nos mostra isso. No entanto, quando fala no problema que ocorrerá caso Belo Monte não seja construido do jeito que está planejado, pessoas ficarão sem emprego e enveredarão pela floresta destruindo-a, deixa de ver uma série de alternativas que podem ser utilizadas para que isto não aconteça. Em suma, não analisa com profundidade e chega facilmente a uma conclusão. Vamos pensar mais e discutir mais, para que não enveredemos por esta estrada tão estreita.