Difícil discorrer sobre estes primeiros meses de governo do presidente Jair Bolsonaro. Foram poucos os momentos em que você ia lá e exclamava…”agora, o governo deslancha…”. Não, não rolou. Sempre haviam obstáculos no meio do caminho…E haverá de surgirem outros…
Muitos vão argumentar que o que tivemos nestes pouco mais de 100 dias de governo foi uma verdadeira guerra mediática. Não dá para negar.
Bolsonaro já assumiu anunciando que não daria boa vida às mídias, que tanto sabotaram sua campanha, no ano passado. Partiu para o contra-ataque. Claro que foram muitos movimentos em falso, muitas intrigas de bastidores, mas não há como negar que o presidente foi muito desastrado, inábil até, em muitos momentos.
Como vem sendo escrito, meu interesse se recai, no entanto, sobre a agenda econômica e como Paulo Guedes conseguirá ultrapassar as barreiras da reforma da Previdência no Congresso. Lembremos que ele precisa de 308 votos em duas votações, de um total de 513 na Câmara e mais 54 de 81 no Senado. Antes, ainda terá que passar por algumas comissões no Senado e numa especial agora na Câmara.
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Não será uma tarefa fácil. Basta lembrar o que aconteceu na semana passada na CCJ. Um verdadeiro massacre coordenado, com o PSL se omitindo por completo. Claro que o que predominou foi a baixaria dos opositores de sempre mas, algumas vezes, se tornou inevitável para o ministro escorregar em algumas cascas de banana.
Bom, e o pior é que a agenda econômica do Guedes e seus “Chicago’s oldies” é bem ambiciosa, para não dizer pesada. Comenta-se sobre a reforma tributária, a desvinculação do Orçamento, esta, “ferida de morte” pela aprovação da PEC do Orçamento Impositivo, um ambicioso programa de venda de ativos, desde prédios públicos abandonados, até empresas públicas que, nos últimos anos, vinham servindo mais para acomodar os apaniguados do “PT e sua turma”. Enfim, a agenda é pesada e ambiciosa.
Voltando ao presidente Bolso e suas patacoadas, precisaríamos de mais do que este espaço para lembra-las, Na mais recente, a intervenção do presidente no sistema de preços da Petrobrás, desautorizando um reajuste pesado do diesel em mais de 5%, pode ser considerada mais um ato desastrado. Muito se comenta, no entanto, sobre a greve dos caminhoneiros já nas portas, nas estradas, em articulações com os oportunistas partidos e sindicatos de esquerda.
Lembremos também a elevação da tarifa do leite, a postura reticente na reforma da Previdência, a não autorização na venda de vários elefantes brancos, no passado, chamados por Paulo Francis de Petrossauros…e por aí, vamos caminhando.
O fato é que Jair Bolsonaro viveu 28 anos no Parlamento, com uma pauta de “bons costumes”, mais parecendo inspetor de escola religiosa e, principalmente, pelo “viés corporativo”, defendendo os interesses dos militares, das Forças Armadas e das polícias estaduais.
De repente, ele se vê diante de vários temas espinhosos, interesses contrariados, agendas pesadas…Vacila, volta atrás, demite ministros, se contradiz…
Isso tudo vem pegando mal no mercado, já meio cansado das posições dúbias e inseguras do presidente. Até porque suas intervenções são sempre muito desastradas, mostrando total falta de domínio aos mais elementares preceitos de uma raciocínio concatenado e lógico. O presidente Bolsonaro ainda não se acostumou com a liturgia do cargo. Parece que que o seu cálculo político está com problemas, fala bobagens aos “borbotões”, meio que vomitando opiniões e conceitos.
Bem, mas ainda faltam quatro anos e sete a oito meses. É o que temos no momento.
Esperamos, no entanto (é nossa torcida, pelo bem da governabilidade), que o tal “núcleo duro”, formado pela turma da caserna, todos generais muito qualificados, consiga manter o presidente sob rédea curta ou limitada. Não nos parece interessante para a governabilidade do País vivermos nestes próximos anos aos “trancos e barrancos”, tal qual Dilma Roussef, nos seus estertores.
O País não aguentaria.
Vamos acompanhando…