“Arruda, por três anos, orgulhou o DEM (…) Até aparecerem as imagens que indignaram o Brasil e a nós do partido”. (Senador José Agripino)
Segundo informam os amigos de Brasília, José Roberto Arruda vinha fazendo um bom governo na capital do país. Com investimentos pesados em infraestrutura, transportes, saneamento e educação, além de um “choque de ordem” para coibir as irregularidades urbanas, tão comuns nas grande (e médias) cidades brasileiras, o governador era, até poucos meses, a principal estrela de seu partido – o Democratas.
Salvo melhor juízo, Arruda foi o principal protagonista do programa gratuito do partido na TV, há poucos meses. Era cotado até para candidato a presidente pelo DEM, ou para vice na chapa de José Serra, do PSDB. Foi então que as suas inúmeras falcatruas vieram a público – contadas em prosa e verso por imagens que dizem mais do que mil palavras – e o seu castelo de cartas veio abaixo. O ex-governador passou o carnaval trancado numa sala da Polícia Federal, enquanto seus caríssimos advogados queimavam a mufa tentando arranjar artifícios jurídicos capazes de livrá-lo do xadrez.
A história de Arruda é exemplar para demonstrar duas coisas: 1) que as instituições brasileiras estão mudando e 2) que o nosso modelo de Estado, hipertrofiado e intervencionista, precisa mudar.
Até muito pouco tempo, a impunidade dos políticos era a tônica. Houve até um, em São Paulo, cujo refrão (informal) de campanha era: “rouba mas faz”. E, por incrível que pareça, ele ganhava votos com isso. Tão disseminada era a roubalheira, que as pessoas achavam razoável votar em alguém que, sabidamente, roubava, mas ao mesmo tempo tocava obras. Felizmente, isso parece ter mudado e a sociedade já não mais se conforma em assistir pacificamente a apropriação do seu dinheiro para fins particulares.
Como disse o Ministro Marco Aurélio Mello, em recente entrevista à Folha de São Paulo, “nós estamos, como disse na decisão, numa quadra alvissareira. De um lado, temos o abandono de princípios, a perda de parâmetros, a inversão de valores, o dito passa pelo não dito, o certo pelo errado e vice-versa. De outro, as mazelas não são mais passíveis de serem escamoteadas. Elas afloram e aí as instituições pátrias funcionam, a polícia, o Ministério Público e o Judiciário. Isso sinaliza dias melhores para o Brasil em termos de apego às regras”.
Mas não basta apenas que as instituições funcionem. É preciso mais, é preciso mudar o paradigma. Segundo Karl Popper, a questão tradicional da teoria política é: “quem deve governar?” As respostas usuais variam, desde “o melhor” até “o mais sábio”, passando pelo “povo” ou “a maioria”. Mas essa questão está mal colocada, de acordo com aquele filósofo. Deveríamos perguntar não quem deve governar, mas “como podemos organizar as nossas instituições políticas de forma que os maus governantes, os incompetentes, os corruptos – aqueles que nós tentamos sempre evitar, mas que acabamos sempre elegendo – não possam causar grandes danos?” Popper acreditava que somente mudando essa questão nós poderíamos alcançar instituições políticas decentes e eficazes. É preciso, portanto, que o próprio modelo seja um antídoto contra os desmandos e as falcatruas.
Essa era também a preocupação de Hayek. Em sua obra “Individualism: True or False?”, ao comentar o pensamento de Adam Smith, ele é enfático: “a principal preocupação de Smith não era tanto com o que o homem pudesse ocasionalmente realizar quando estivesse em seus momentos mais nobres (at his best), mas que ele tivesse a mínima chance possível de causar danos quando estivesse nos seus momentos mais viciosos (at his worst)”.
O que Adam Smith e Hayek defendiam, portanto, é um sistema sob o qual os homens ruins pudessem causar menos danos aos demais. Um modelo de organização social e econômica que não dependesse, para o seu bom funcionamento, de que nós encontrássemos homens bons para dirigi-lo, ou de que todos os homens se tornassem melhores para que ele possdesse ser eficiente. Enfim, um sistema que funcionasse independentemente da variedade e complexidade dos homens: bons ou maus, egoístas ou altruístas, inteligentes ou estúpidos.
Esse modelo é o modelo liberal de “Estado Mínimo” (minarquista). Enquanto nós continuarmos colocando quantidades crescentes poder e dinheiro nas mãos dos governantes, além de autorizá-los a interferir cada vez mais na economia, casos como o do Distrito Federal continuarão a pipocar – e a nos indignar.
Se houver alguma forma de responder esse comentario, ficaria agradecido. Acho muito saudavel esse tipo de debate.
O texto teve uma analise que me é muito comum. Da possibilidade de poucas pessoas, agraciadas com um poder legitimo, que possam causar problemas as outras. Seu poder é legitimo, porem danoso. Isso eu chamo de democracia representativa.
E isso é legitimado pelo pensamento liberal que persiste até hoje hegemonicamente na nossa sociedade.
Coloco, porém, a problemática da sua sugestão de sociedade em contraposição aos desmandos do Estado.
A falta de um espaço publico de decisões democráticas partindo da escolha da grande maioria da sociedade, nos leva a abertura da possibilidade de outras formas de exercer o poder.
Se de um lado minimiza-se o papel do Estado, mesmo que cheio de falhas, como um espaço, uma arena, onde as pessoas possam intervir, consequentemente se coloca no lugar dele uma outra arena de decisões e de escolhas. Nesse caso seria o poder econômico que está ligado aos pequenos locos de poder.
Incluimos neles, tal qual já é um fenomeno incrivel no país mais rico com o, provavel, modelo liberal mais perfeito, que é os EUA.
Nada acontece ali que não passe pelo aval das grandes corporações do petroleo, da mídia e dos banqueiros. Tal qual foi a fracassada reforma do sistema de saúde, as guerras inexplicaveis no Oriente Médio, as intervenções políticas na América Latina…
Ou seja, o modelo que o senhor propõe, nada mais é que o agravamento das possibilidades já existentes do poder politico ficar na mão dos que já possuem o pode econômico. O modelo atual já é uma caricatura disso. Que candidato tem condiçoes de chegar ao poder se não possuir por tras generosas doações para suas campanhas (desde que precedidos de rigorosos contratos caso este seja eleito)?.
Não obstante, a maior empresa brasileira, que ja está se tornando multinacional é talvez a maior financiadora do partido, que vocês aqui chamam, de ditadores de esquerda. A Odebretch bancou o filme de Lula, a Odebretch bancou as campanhas do PT, e que surpresa! A Odebretch não para de crescer!
A sociedade não se move sozinha, muito menos a economia, e isso a ficou provado nas crises que vemos indo e voltando como um boomerangue todas as décadas.
O que venho aqui propor ao senhor, é uma revisão desse conceito. O Estado que temos hoje nada mais é um instrumento desses poderosos senhores do mercado (que participam, constroem e financiam instituto como esses) de estarem reforçando a sua influencia.
A falta de um espaço onde o povo, principalmente os despossuidos de grandes riquezas e de grandes empresas, só será de maior beneficio para essas figuras. A diminuiçao de um espaço onde possamos escolher nosso futuro e os caminhos da nossa sociedade.
Dessa forma só nos restarão as ruas e a violência, e acho que isso é desnecessario.
É preciso planificar mais ainda a democracia. Leva-las as estancias menos representativas possiveis. Popularizar as decisões para que essas figuras parlamentares que são legitimadas, infelizmente, pelos nossos votos, não tenham a liberdade de fazer o que estão fazendo. Com a conivencia dos ricos.