Sempre me posicionei contra as ditas “ações afirmativas”, pois essa ação vinda do Estado tende a provocar uma enorme clivagem social e, ao tentar forçar uma situação artificial, pode vir a provocar animosidade entre o grupo a que busca beneficiar e o restante da sociedade. Em decorrência disso, entretanto, já fui acusado de “racista” e de termos menos adequados a um texto público.
Outro ponto que sempre me preocupou é que as ações afirmativas tendem a abrir caminho a dois fenômenos: o primeiro, a redução da qualidade do ensino, tendo em vista que passamos a exigir menos qualidade dos que estão ingressando. E, o segundo, que as cotas pudessem vir a ser utilizadas em sentido oposto, ou seja, para restringir o acesso de quem tenha qualidade a algum posto. Pois bem, meu temor no segundo caso se confirmou. Nosso Ministério da Educação (MEC), temeroso de que instituições de qualidade evidenciassem a péssima qualidade geral do ensino público de nosso país, criou cotas de premiação na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep).
Consta do edital da competição, no item 7.2: “serão denominadas escolas seletivas as escolas que na admissão de alunos: a. realizam processo de seleção por meio de provas ou concursos; ou, b. priorizam o acesso a filhos de militares, a filhos de professores universitários ou a filhos de outras categorias profissionais”. Assim sendo, excluem de pronto as escolas militares de todo país que, historicamente, oferecem excelente nível de ensino. Como o MEC não tem competência para elevar o ensino público ao nível das escolas militares prefere impedir o acesso de todos os alunos dessas escolas aos prêmios a que têm direito.
Apenas para termos uma noção do que se está dizendo, no que se refere às medalhas de ouro, o edital prevê a concessão de 500 medalhas no certame. Destas, serão concedidas no máximo 40 para alunos de escolas seletivas no nível 1, 40 para alunos de escolas seletivas no nível 2 e 50 para alunos de escolas seletivas no nível 3, ou seja, no máximo 130 medalhas nos três níveis, o que representa 26% do total. Como já havia dito em outra ocasião, não é interesse do governo que os estudantes tenham conhecimento real, especialmente de português e matemática. Conhecimento incomoda, promove cobranças, o que é péssimo para o tipo de governo centralizador que temos.
Forçar a mediocrização do ensino é um caminho curto para o domínio da sociedade. Afinal, as estatísticas indicam o enorme acesso ao ensino superior de qualquer curso e nível, mas sem demonstrar as exigências. Iremos ter quantidade, o que não irá significar qualidade. Os beneficiados não têm culpa e não devem ser hostilizados, pois muitas vezes são “ingênuos úteis” no joguinho governamental de gente muito mal intencionada. Esse movimento na Obmep só torna evidente o quanto o governo teme quem realmente possui cérebro. Infelizmente, nada que me surpreenda.
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