O mais recente cálculo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses, de setembro de 2012 a setembro de 2013, atingiu a marca de 5,86%, ficando abaixo de 6% pela primeira vez este ano. Já a inflação do mês, calculada em 0,35%, foi lembrada com otimismo pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega que, no início de outubro, afirmou que a redução do IPCA, em comparação a setembro de 2012 e 2011 significa que a inflação está sob controle.
Na contramão do pensamento de Mantega, está o economista e especialista do Instituto Millenium Vítor Wilher. Segundo ele, a inflação não está controlada. Wilher observa que as desonerações fiscais do governo mascaram os números reais da inflação. “Sem essas desonerações, chegaríamos a um IPCA de cerca de 7%”, afirma.
Leia a entrevista.
Instituto Millenium: A inflação no país está sob controle?
Vítor Wilher: A meta de inflação no Brasil é de 4,5%, com dois pontos percentuais de tolerância para baixo ou para cima. É um equívoco afirmar que a inflação está controlada no país porque nos últimos três anos bateu o limite superior da meta, que é de 6,5%. Em setembro tivemos uma variação mensal de 0,35%, e o IPCA acumulado em 12 meses recuou para menos de 6%. Mas, ao longo do ano, esse Índice ficou sempre acima de 6%, ou seja, bem superior ao centro da meta.
Imil: Essa é uma inflação real? Como as desonerações do governo influem sobre esse cálculo?
Wilher: Esse número seria bem maior se retirássemos do cálculo as desonerações realizadas pelo governo, como a redução da energia elétrica e do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] nos produtos industriais e na cesta básica. Sem essas desonerações, chegaríamos a um IPCA de cerca de 7%. Isso significa que não temos uma situação de pleno controle inflacionário.
Outro ponto a ser lembrado é a questão dos preços livres e administrados. Os livres, correspondentes a 75% do IPCA, são regulados pela oferta e pela demanda. Já os administrados, 25% do IPCA, são aqueles que sofrem alguma forma de indexação e são reajustados anualmente, como o preço da gasolina, da energia elétrica, dos aluguéis etc. No acumulado em 12 meses, os preços administrados variaram somente 1,12%. Já os livres tiveram variação de 7,3%. Se fizermos a média do descolamento entre os dois preços, chegamos a 5,86%. É um controle inflacionário via repressão dos preços administrados, que, cedo ou tarde, vai apresentar consequências.
Imil: O objetivo principal das renúncias fiscais é trazer para baixo a inflação?
Wilher: O governo diz que essas desonerações têm como objetivo fomentar o crescimento. A questão é que, desde agosto de 2011, vivenciamos um compromisso da presidente em trazer a taxa básica de juros a níveis historicamente baixos. Em algum momento do ano passado, atingimos uma taxa básica real de juros menor do que 2%, exercendo, naturalmente, uma pressão inflacionária devido ao descolamento entre salário e produtividade. O governo enxergou na desoneração de setores uma forma de aliviar a inflação. O impacto no crescimento foi muito baixo no agregado da economia. Como resultado, vemos um crescimento pífio nesses últimos trimestres. Fica muito claro que essas desonerações têm como objetivo o controle da inflação de forma não monetária.
Imil: E qual seria a prioridade no combate à inflação?
Wilher: O principal é mostrar a autonomia do Banco Central, ficando longe da interferência política do governo e, principalmente, do Ministério da Fazenda, à sociedade. Além disso, deve-se manter esse processo que elevou a taxa Selic [Sistema Especial de Liquidação e de Custódia] para 9,5% – chegando a 11%, 12% –, mesmo que 2014 seja ano eleitoral, para se restabelecer a credibilidade da autoridade monetária e impactar as expectativas de inflação e, posteriormente, a inflação real.
A única forma eficaz de combater a inflação é o aumento da produtividade. É uma ilusão pensar que a produtividade possa ser aumentada pelo comando do governo. Ela só aumentará concedendo liberdade aos agentes econômicos. A infelicidade do Brasil é que temos uma tradição de 500 anos de dirigismo estatal. Os regimes políticos mudaram, mas a tradição continua.
ainda nao aprenderam sobre
o risco de controlar a inflacao politicamente
e colocam a gente sob risco!