A economia brasileira registrou recuo de 0,6% no segundo trimestre, na comparação com os três primeiros meses do ano, informou o IBGE nesta sexta-feira. A mediana de 41 projeções compiladas pela Bloomberg era de que o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) tivesse queda de 0,4%. Em relação ao segundo trimestre do ano passado, o recuo foi de 0,9%. Nesse tipo de comparação, os analistas esperavam contração de 0,6%. No primeiro trimestre, o desempenho foi revisado de avanço de 0,2% para recuo de 0,2%, o que caracteriza um quadro classificado pelos economistas como recessão técnica.
A última vez que o Brasil registrou uma recessão técnica foi no último trimestre de 2008 e primeiro de 2009 na esteira da crise internacional. A economia registrou recuo de 4,2% e de 1,7% respectivamente, na comparação com o trimestre anterior. Apesar de mais forte, ela foi rápida e no segundo trimestre de 2009, o PIB já crescia 1,9%.
O IBGE, porém, é cauteloso ao comentar o assunto:
— Essa queda de 0,2% (do primeiro trimestre), a gente nem considera, porque o dado pode ser revisado. O recuo de 0,6% (do segundo trimestre), sim — disse Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE.
Em 12 meses, a economia registra avanço de 1,4%. Com o recuo de 0,2% frente ao primeiro trimestre, o PIB brasileiro ficou em R$ 1,271 bilhão entre abril e junho.
Em relação ao primeiro trimestre, o setor que mais registrou recuo foi o da indústria, com queda de 1,5%. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, a queda foi ainda maior, de 3,4%, a maior queda desde o primeiro trimestre de 2009, quando caiu 11,6%.
Já o setor de serviços, maior parte do PIB, teve queda de 0,5% frente ao trimestre anterior, mas avançou 0,2% ante o mesmo período de 2013. A agricultura teve alta de 0,2% frente ao primeiro trimestre e ficou estável (0%) em relação ao segundo trimestre de 2013.
Consumo das famílias avança
O consumo das famílias foi um dos poucos componentes do PIB com avanço no trimestre. Em relação ao trimestre anterior subiu 0,3%, após um recuo de 0,2% no trimestre anterior. Em comparação ao mesmo período do ano passado, avançou 1,2%, o 43º avanço consecutivo, fruto da elevação da massa salarial real em 4,3% e do crescimento nominal de 6% no saldo de operações de crédito livre para pessoa física.
Na comparação com o ano anterior, o item serviços de intermediação financeira teve alta de 2,5%, na contramão da queda média registrada nesse tipo de comparação.
— Apesar de o crédito não estar crescendo mais muito, as instituições financeiras têm tido aumento de receita dos serviços diretamente medidos (abertura de conta corrente, anuidade de cartão de crédito). A receita desses outros serviços tem crescido, e ajudou a manter a taxa de crescimento desse item — explicou Rebeca.
No trimestre, a taxa de investimento ficou em 16,5%, bem inferior à apurada no mesmo período do ano anterior, que fora de 18,1%. Segundo o IBGE, essa queda se deu, sobretudo pela queda em volume da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no trimestre.
Poupança tem menor taxa em 13 anos
A parcela do PIB destinada à poupança foi de 14,1%, a menor desde o segundo trimestre de 2001, quando fora de 14%. No mesmo trimestre de 2013, havia sido de 16,1%
A queda de 5,3% da FBCF foi a quarta retração consecutiva e a mais intensa desde o primeiro trimestre de 2009, quando a taxa recuou 11,8% na esteira dos efeitos da crise internacional sobre a economia brasileira. Já em comparação ao mesmo período do ano passado, o tombo da FBCF em 11,2% foi o mais intenso desde o segundo trimestre de 2009, quando a taxa tinha recuado 13,6%.
— A Taxa Selic aumentou. No segundo trimestre de 2013, estava em 7,5%. No trimestre terminado em junho, está 10,9%. Isso influencia também a desaceleração do crescimento do crédito. Além disso, uma parte grande da indústria automotiva, que caiu muito, é considerada investimento — disse Rebeca.
O consumo do governo, que teve queda de 0,7%, teve a primeira queda frente ao trimestre anterior desde o primeiro trimestre de 2013. Foi o recuo mais intenso desde o terceiro trimestre de 2011, quando também houve recuo de 0,7%.
— Olhando por dentro, os gastos correntes do governo cresceram menos no primeiro trimestre do que haviam crescido no ano anterior. A gente sabe que a arrecadação não está crescendo muito — afirmou Rebeca.
Outras revisões
Além de revisar o desempenho do primeiro trimestre, o IBGE refez os cálculos de outros períodos, sempre na comparação com o trimestre anterior. Para o quarto trimestre, o cálculo passou a indicar alta de 0,5%, e não de 0,4%. Já o terceiro trimestre passou a registrar queda mais acentuada, de 0,6%, e não de 0,3%, conforme antes indicado. Também houve recálculo do número do segundo trimestre do ano passado, apontando alta de 2,1%, e não de 1,6%.
O resultado é divulgado em meio a um crescente pessimismo em relação ao desempenho da economia neste ano. Segundo o mais recente boletim Focus, elaborado semanalmente pelo Banco Central, economistas reduziram pela 13ª vez consecutiva a projeção para crescimento do PIB neste ano, para apenas 0,79%.
Prévia do BC indicou queda
Entre os indicadores que fundamentaram a piora das projeções, um dos principais é a produção industrial. Em junho, o setor recuou 1,4%, completando uma sequência de quatro resultados negativos consecutivos. O último dado sobre a receita do setor de serviços, que responde pela maior parte da economia do país, também não animou: subiu 5,7%, menor taxa desde que o IBGE começou a acompanhar o segmento, em 2012. Ambos os resultados tiveram influência do chamado “efeito Copa”, relacionado aos feriados durante o torneio, em junho e julho.
Há duas semanas, o Banco Central divulgou que a economia encolheu 1,2% no segundo trimestre, de acordo com o IBC-Br. Apesar de ser chamado de “PIB do BC”, o indicador é formado por cálculos diferentes dos utilizados para a apuração do PIB oficial, do IBGE. O segundo é muito mais complexo, representando de forma mais fiel a soma de bens e serviços produzidos no país.
Nesta quinta-feira, durante a divulgação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDE), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que espera que a economia cresça mais no ano que vem, atribuindo os números fracos de 2014 a fatores como seca e crise de energia, que espera que não se repitam. A expectativa do governo para 2015 é de alta de 3%, bem maior que a previsão do mercado, de 1,2%.
Fonte: O Globo
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