Nem mesmo o rombo das contas públicas conseguiu garantir que o Brasil crescesse no ano passado. O país encolheu 0,15% em 2014 pelos cálculos do Banco Central. Os estímulos dados pelo governo não surtiram tanto efeito – segundo analistas ouvidos pelo Globo – por causa da baixa confiança de empresários e famílias num cenário de esgotamento do modelo de crescimento. Apesar de revelar retração da economia, o resultado do IBC-Br, o índice de crescimento criado pela autarquia, veio um pouco melhor que as expectativas dos economistas do mercado financeiro. Eles apostavam em uma retração de 0,2%.
— O número é bom porque surpreendeu todo mundo que esperava um dado pior. Ele é ruim porque reforça a desaceleração da economia — frisou o economista-chefe da Votorantim Asset, Roberto Padovani.
Apesar de uma queda mais amena, os dados do BC mostram uma queda da economia de nada menos que 2,39% no último trimestre do ano passado. Nem mesmo o Natal salvou a atividade. Segundo as contas do BC, a atividade econômica encolheu 0,55% em dezembro.
Para o diretor de Pesquisas e Estudos do Bradesco, Octavio de Barros, esse desempenho reforça a aposta de uma retração da economia de 0,2% no quatro trimestre pelos dados oficiais que serão divulgados pelo IBGE no mês que vem.
“O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), proxy mensal do PIB, divulgado há pouco, recuou 0,55% na passagem de novembro para dezembro, já descontados os efeitos sazonais. Esse resultado sucede a estabilidade verificada em novembro e superou as expectativas do mercado, cuja mediana apontava para retração de 1,1%. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o indicador avançou 0,65%, acumulando queda de 0,15% em 2014. Esse resultado, assim, reforça nossa expectativa de retração de 0,2% do PIB no quarto trimestre, resultado que será divulgado pelo IBGE no final de março”, escreveu aos clientes da instituição.
Cálculo é diferente de conta do IBGE
Há grandes diferenças metodológicas entre o PIB do BC e o oficial. O cálculo da autoridade monetária é mais simples e é divulgado mais rapidamente. É esse número que é usado para calibrar a política de controle de preços e para definir a taxa de juros. É para o IBC-Br que o Comitê de Política Monetária (Copom) olhará para definir os juros no dia 4 de março na hora de – provavelmente – aumentar ainda mais a taxa básica (Selic) que está em 12,25% ao ano.
Pelos dados antecipados até agora, o cenário de desaceleração dos economistas é reforçado. Na quarta-feira, por exemplo, o IBGE divulgou que por causa da desaceleração da atividade e do crescimento da renda, alta de juros e inflação e também as eleições fizeram as famílias consumirem menos. Assim, o comércio cresceu apenas 2,2% em 2014: o pior desempenho desde 2003, quando houve retração de 3,7%.
Ainda havia uma pequena expectativa de um leve crescimento em 2014. Pelo menos oficialmente. De acordo com a pesquisa semanal que o BC faz com analistas, a estimativa era de apenas 0,07% no levantamento feito na sexta-feira passada e publicado na última segunda-feira.
Já a aposta para este ano é zero. A economia deve andar de lado, mas há especialistas que trabalham com um cenário muito pior em caso de racionamento de energia. A atividade econômica poderia encolher, nesse caso, até mais de 1%.
Fonte: O Globo, 12/02/2015.
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