Uma excelente matéria, publicada nesta terça-feira, no jornal Valor Econômico, mostra em cores vivas que “o Brasil perdeu terreno em relação a outros emergentes nas últimas décadas, distanciando-se do nível de renda dos países desenvolvidos, em vez de se aproximar. Com o baixíssimo crescimento da produtividade, o PIB per capita brasileiro corresponde hoje a pouco mais de um quarto do americano. Em 1980, equivalia a quase 40%. Nesse período, o PIB per capita do Chile passou de 27,4% para 41,5% do indicador dos EUA; o da China, de 2,5% para 28,9% e o da Coreia do Sul, de 17,5% para 66%. (veja gráfico abaixo).
Segundo o mesmo jornal, um “estudo da McKinsey ilustra bem o mau desempenho da produtividade brasileira na comparação com outros países no período de 1990 a 2018. Nessas quase três décadas, a produtividade do trabalho cresceu apenas 1,3% ao ano no Brasil, bem abaixo dos 3% do Chile, dos 5% da Índia e dos 8,8% da China, de acordo com a consultoria.”
Os comparativos acima chegam a ser deprimentes. Escolhas absolutamente equivocadas, durante o último quarto do Século XX, tornaram os países da América Latina reféns do subdesenvolvimento.
Em 1996, o best-seller “Manual do perfeito idiota latino-americano”, escrito pelo trio Plinio Apuleyo Mendoza, Carlos Alberto Montaner e Álvaro Vargas Llosa descreveu de forma clara e objetiva como a América Latina, através de políticas populistas atrasadas, abriu mão do crescimento econômico sustentado e mergulhou na armadilha da estagflação, termo que designa a mistura de estagnação com inflação.
Durante a década de 70 do século passado, o economista Argentino Raúl Prebish, então secretário-geral da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina (CEPAL), desenvolveu a chamada “Teoria da dependência”, dogma econômico esquizofrênico que prosperou na política regional da América Latina durante praticamente toda a segunda metade do século 20.
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O argumento central de Pebrish e de seus seguidores, espalhados pelas principais universidades do continente, era de que a pobreza na América Latina persistia porque, enquanto os países ricos podiam aumentar os seus padrões de vida por meio de constantes ganhos de produtividade, os países pobres, que exportavam apenas os produtos agrícolas e matérias-primas, eram escravos do excesso de trabalho. Com isso, eles não podiam acumular o capital excedente necessário para subir a escada econômica. Não por acaso, vários economistas tupiniquins, encabeçados por Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares e outros defendiam a mesma tese conspiratória.
Estas crenças, misturadas com doses elevadas do marxismo, faziam com que políticos populistas, fossem de direita ou esquerda, tomassem as teorias estapafúrdias de Prebisch como verdades absolutas e incontestáveis. Foi assim que políticas que prestigiavam fartos subsídios para as indústrias locais e proteção contra a concorrência internacional prosperaram em todo continente. É claro que tais políticas contribuíram em grande escala para a renitente ineficiência e a falta de competitividade das indústrias tupiniquins.
Foi também graças a essas teorias que os governos centrais assumiram, em praticamente toda a região, com a louvável exceção do Chile, um papel de destaque no famigerado processo de “substituição de importações”, alimentando por décadas a corrupção e a inflação, que viriam a devastar o continente durante as últimas décadas do Século XX.
Como escrevi aqui mesmo nesse espaço há poucas semanas, “A boa ciência econômica já demonstrou de forma convincente que as “fontes do desenvolvimento” são o Estado de Direito e um bom sistema de educação.”
Os políticos que governaram esse continente populista desprezaram o exemplo dos países que venceram a pobreza, especialmente no que concerne às instituições e ao ambiente de negócios. Temas como Estado de Direito, previsibilidade jurídica, respeito à propriedade privada, liberdade econômica, cumprimento de contratos, desburocratização, combate à corrupção, eficiência e parcimônia com o gasto público não têm qualquer relevância para eles.