A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, anunciada há pouco, era esperada pela unanimidade dos analistas. A Selic, a taxa básica de juros, foi reduzida de 5,5% para 5% ao ano. Muito provavelmente, haverá nova redução para 4,5% em dezembro, quando o comitê se reunirá pela última vez neste ano.
A medida tem como principal causa o cenário benigno da inflação, que deve terminar 2019 em 3,3%, segundo estimativa da Tendências Consultoria, coincidente com as opiniões colhidas pela pesquisa Focus do BC entre outras consultorias e analistas do sistema financeiro. A meta para a inflação do ano está fixada em 4,25%. Será o terceiro ano consecutivo em que os preços crescem abaixo da meta. E isso pode acontecer novamente em 2020, se nada drástico acontecer por aqui ou na economia mundial. O próximo ano pode terminar com inflação de 3,6%, comparativamente a uma meta menor, de 4%.
Além disso, ao longo dos últimos quatro anos, uma série de ações do governo Temer contribuiu para viabilizar quedas histórias da Selic. Quatro delas merecem destaque: 1) a aprovação do teto de gastos, interrompendo a trajetória para o abismo fiscal armado com a fatídica Nova Matriz Econômica do governo Dilma Rousseff, o que restabeleceu a confiança na sustentabilidade da dívida pública; 2) a aprovação da nova Taxa de Longo Prazo (TLP), que eliminou subsídios implícitos nas operações de crédito do BNDES; 3) a restauração da credibilidade do Banco Central, antes prejudicada pela ordem da mesma presidente para baixar a Selic sem que existissem condições para tanto – o BC recuperou, assim, a capacidade de ancorar expectativas em torno do comportamento da inflação; 4) a devolução de expressiva soma de recursos do BNDES ao Tesouro Nacional (R$ 500 bilhões lhe haviam sido transferidos no período de governo do PT), o que reduziu a segmentação do crédito e aumentou a potência da política monetária (uma Selic menor produz os mesmos efeitos no controle da inflação).
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Esse conjunto está na base da formação do ambiente virtuoso que tem permitido quedas inéditas da Selic. Para se ter uma ideia do quanto mudou para melhor a percepção dos analistas, as estimativas da pesquisa Focus, divulgadas no princípio de 2016, indicavam uma taxa Selic de 11% em dezembro de 2019.
O governo Bolsonaro contribuiu para esse ambiente ao manter o tripé macroeconômico (metas para a inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal) e ao escolher pessoas competentes e de elevada reputação para compor a nova administração do Banco Central. Por tudo isso, vale repetir, a Selic pode cair para 4,5% em dezembro e continuar nesse nível por todo o ano de 2020. Mas, já existem analistas que projetam 4%, o que não é improvável.
Fonte: “Veja”, 30/11/2019