Somos uma Consultoria de Investimentos. Como tal, temos que falar sobre a economia do país, como está o mercado financeiro, eventos recentes, o que deve acontecer nos próximos meses, quem perde, quem ganha etc. Nos últimos tempos, no entanto, tem sido complicado focar apenas nos eventos econômicos, dada a predominância de movimentações no “circo político” em Brasília.
Desde as eleições de 2014, da tumultuada posse da “presidenta” Dilma Roussef, seu governo em permanente crise, o impeachment pela acusação das pedaladas fiscais, o longo trâmite do processo, o desfecho em agosto de 2016 com a posse do novo governo de transição de Michel Temer, seus vários embates etc. Realmente, até o momento, tem sido difícil ignorar a influência do ambiente político sobre os rumos do país. A observar que, mesmo este governo, em estado de ebulição permanente, tem conseguido conduzir bem a economia. Em outras épocas, os mercados estariam experimentando fortes ciclos de oscilações e realizações. Por que isso não acontece?
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Retomada, mesmo que lenta
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Simplesmente porque o mercado enxerga o futuro, as expectativas, e na visão dos investidores, independente de quem seja o eleito em outubro, uma “agenda econômica de bom senso” já será um grande avanço para o país. Esta parece ser a “torcida” de todos. A isso devemos dar o crédito para a excelente equipe econômica do ministro Henrique Meirelles, montada nesta complicada transição e conseguindo conduzir bem a economia.
Realmente, vivemos uma fase em que a economia segue evoluindo bem, claro que de forma lenta e errática, no que se refere ao ritmo de retomada da atividade. Aos poucos as famílias vão retomando o consumo, cautelosamente voltando a se endividar, o mesmo não acontecendo com as empresas, muito alavancadas no passado, e aos poucos voltando a se recompor. Temos aqui também alguma cautela, até excessiva, no que se refere à programação dos investimentos, na ampliação das plantas, compra de novas máquinas, pelo fato dos empresários estarem no aguardo de uma definição do quadro político. Dependendo de quem for eleito, o rumo será um ou outro. Mesmo neste dilema entre consumir e investir mais, por “arrasto”, a economia deve crescer 3% neste ano e ingressar num ciclo virtuoso se a agenda do bom senso se confirmar.
No front inflacionário, todo mérito para a gestão prudente do BACEN, sob a batuta de Ilan Goldfajn. Com ele, a taxa de juros passou de 14,25% em fins de 2016 para 6,5%, a ser confirmada no Copom de março (dias 20 e 21). Já a inflação, de 10,7% em 2015, recuou a 2,8% em 12 meses, agora em fevereiro, e não se nota nenhuma tendência à reversão. Os alimentos recuaram 1,8% em 2017 e não visualizamos outro comportamento neste ano. São duas safras recordes gerando oferta suficiente para amortecer qualquer choque de oferta indesejável. Em 12 meses agora em fevereiro fecharam em -1,4%. A única atenção a ser dada deverá ser a trajetória dos preços monitorados, com destaque para os reajustes de energia e gasolina. No ano passado fecharam em 7,9% e neste ano estavam em torno de 7,3% em 12 meses.
Sobre o câmbio ainda pairam algumas dúvidas, dada a nebulosidade do ambiente externo. Não temos controle do que deve decidir o presidente Donald Trump sobre a política tarifária, como a economia deve evoluir e qual o impacto sobre a inflação. O CPI segue relativamente baixo, em torno de 2,1%, mas deve acelerar um pouco nos próximos meses dado o mercado de trabalho a pleno emprego, o que, em algum momento, deve gerar pressões pelo lado dos custos salariais. Com isso, o Fed pode vir a acelerar o ritmo de ajustes da taxa de juros de curto prazo, em mais reuniões neste ano e no próximo. Isso pode vir a gerar alguma volatilidade no mercado cambial doméstico.
Falando do regime fiscal, de novidade temos a economia rodando num bom ritmo, o que vem impulsionando a arrecadação federal. Neste primeiro bimestre de 2018, esta aumentou mais de 10%, contra o mesmo período de 2018 e não dá para pensar em algo diferente para os próximos meses. Outra contribuição relevante, também, tem vindo dos contingenciamentos de despesas e das receitas extras, como no caso dos Refis. Isso nos leva a acreditar que em 2018 a meta fiscal de R$ 159 bilhões parece garantida. A dúvida é saber o que deve acontecer em 2019 dependendo de quem for eleito. É aqui que a política se encontra mais uma vez com a economia. Estamos na pendência de quem será eleito. Dependendo, a agenda econômica será mantida, sendo importante já de cara, logo depois do presidente tomar posse, colocar a reforma da Previdência na pauta do Congresso.
Enfim, vivemos um período de complicada transição política, muitas denúncias, o presidente Temer se “equilibrando em gelo fino”, mas a economia segue no seu ritmo, na sua “velocidade de cruzeiro”, em boa retomada, com a melhoria geral dos preços macroeconômicos, ignorando o clima político atual. Que continue assim. Muito se comenta, inclusive, que há espaço para a bolsa de valores passar dos 100 mil pontos ao fim deste ano, o dólar recuar, assim como a inflação. Não duvidamos nada, se um candidato de centro, com boa aceitação na sociedade e nos mercados, se consolidar e for eleito.