Este ano parece dado ou perdido para os mais pessimistas. Num ambiente totalmente dominado pelo debate político-eleitoral, difícil achar algum espaço para o aumento dos investimentos, aquisição de novas máquinas, contratação de pessoal, até porque não se sabe nem quem chega ao segundo turno quanto mais quem irá sentar na cadeira do Palácio do Planalto ano que vem.
Tudo segue na mais absoluta indefinição e isso se propaga para a economia. Nos dados do PIB do segundo trimestre, divulgados nesta semana, isso tudo parece ter ficado bem claro. A economia “segue morna”, de lado, pouco crescendo entre um trimestre e outro, embora superando o buraco dos dois últimos anos, já considerado a maior recessão da história do País.
Sobre o PIB, no segundo trimestre o crescimento foi anêmico, apenas 0,2% contra o trimestre anterior, perdendo um pouco de dinamismo contra o mesmo trimestre do ano passado, ao crescer apenas 1%, contra 1,2% no anterior. Em quatro trimestres o crescimento foi de 1,4% e no acumulado ao ano 1,1%, mesmo patamar do anterior (1,2%) (ver tabela ao fim).
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Contra o trimestre anterior, pela ótica da oferta, a Indústria recuou 0,6%, a Agropecuária se manteve estável (0,0) e os Serviços cresceram 0,3%. Já pela demanda, destaque maior ficou com a queda dos investimentos em 1,8%, o que reforça que o ambiente eleitoral difícil e polarizado não contribui para a retomada na decisão de investimentos dos empresários. Tudo deve ser adiado, ainda mais pelo lado do consumo das famílias. Abrindo as contas da Indústria, o maior tombo acabou com o setor de Transportes, armazenagens e correios (-1,4%), neste caso, justificável pelo caos da greve dos caminhoneiros na logística do país entre maio e junho. Na outra ponta, Atividades Imobiliárias acabaram crescendo 1,2%, o que pode ser um sinalizador tênue de retomada deste segmento na economia. Importante que este setor (imobiliário) tem grande efeito desencadeador, por envolver, na margem, a Construção Civil e o mercado imobiliário, na venda de imóveis, sendo também grande gerador de empregos e tendo um horizonte mais longo de planejamento, como bom indicativo. Mesmo assim, a construção segue prostrada, sem capacidade de reação. Isso nos leva a acreditar que está havendo uma queima no estoque de imóveis encalhados.
Há de se observar também que a recessão do ciclo dilmista, depois de 2014, jogou o país num buraco fundo e a retomada vem sendo lenta, dados os vários percalços a serem enfrentados num governo tampão de Michel Temer, lutando para se manter até o final do ano. O gráfico ao fim bem mostra este processo lento de retomada. Os investimentos vão retornando lentamente, embora tendo recuado forte no segundo trimestre contra o anterior (-3,8%), assim como o consumo das famílias, neste caso receosas de novos endividamentos, diante deste cenário eleitoral turvo.
Importante também considerar o impacto da greve dos caminhoneiros sobre a atividade agropecuária no segundo trimestre, por ser este setor, em sua maioria, dependente do escoamento da produção. Sendo assim, não surpreende que o setor tenha recuado 0,4% no segundo trimestre contra o mesmo período do ano passado. As culturas a mais sofrerem foram milho (-16,7%), arroz (-7,3%) e mandioca (-3,2%).
Por outro lado, contra o mesmo trimestre do ano passado, a Indústria se manteve crescente em 1,2%, mesmo patamar dos serviços. Nas famílias, o crescimento do consumo chegou a 1,7% a os investimentos avançaram 3,7%. Na indústria, destaque para a produção e distribuição de eletricidade (3,1%), de Transformação (1,8%), pelas exportações de automóveis para a Argentina, e a Indústria extrativa (+0,6%) com a indústria de mineração (extração de minerais ferrosos, impulsionada pela demanda chinesa). Por outro lado, a Construção Civil se manteve no negativo, recuando 1,1%, embora a Atividade Imobiliária tenha mostrando algum “respiro” (+3,0%).
Falando mais dos investimentos, alguma reação houve contra o mesmo trimestre do ano passado, crescendo a FBCF 3,7%, devido ao aumento das importações, produção interna de bens de capital, mesmo com a Construção em queda. Por outro lado, na análise trimestral, a queda foi forte, 3,8%, refletindo, além da indefinição eleitoral, a greve dos caminhoneiros. Em relação ao PIB, a taxa da FBCF passou de 15,3% no primeiro trimestre para 16,0%. Já a taxa de poupança passou de 15,7% para 16,4%.
Numa análise mais abrangente, tem-se que a economia se manteve “de lado” entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano, embora mostrando alguma melhoria contra o mesmo período do ano passado. Importante considerar que neste primeiro semestre a economia deu uma parada nos últimos meses, como já falado, em função da indefinição política e da greve dos caminhoneiros. Não dá para pensar numa recuperação muito consistente neste segundo semestre, até porque as eleições só se definem ao fim de outubro.
Neste contexto, achamos que a economia brasileira deve se manter morna neste ano, crescendo muito pouco entre os trimestres, embora melhor do que no ano passado. Deve crescer então entre 1,4% e 1,6%. Pelo lado da oferta, com mais uma boa safra neste ano, a agropecuária deve se manter em ritmo razoável, embora menor do que no ano passado, a indústria, um pouco pelas exportações para a Argentina do primeiro trimestre, mantendo-se crescente e os serviços tentando sair do buraco, dado o elevado desemprego atual (12,9 milhões).
Já pela demanda, os investimentos devem continuar parados, assim como o Consumo das Famílias, com as exportações em bom ritmo, pela demanda chinesa de commodities, com destaque para minério de ferro e soja.