Nelson Barbosa cumpre a difícil missão na sua estreia em Davos, como ministro da Fazenda, de convencer os formadores de opinião na comunidade empresarial globalizada, reunidos na cidade dos Alpes suíços em mais um Fórum Econômico, que tudo o que se tem dito do Brasil não é bem assim. O último golpe veio anteontem, às vésperas da abertura do encontro, quando o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou seu periódico relatório sobre as perspectivas para a economia mundial.
Sobre o Brasil, nenhuma boa notícia. Além dos 3,8% da retração do PIB em 2015, estimados pela instituição, projeta-se uma queda na produção geral brasileira de 3,5% este ano. Somados, serão um tombo histórico.
Pelas contas do Fundo, haverá estagnação em 2017, e a recuperação virá apenas em 2018. Isso configurará um período de quatro anos de dificuldades, desde o virtual crescimento zero de 2014, apesar de todos os estímulos fiscais concedidos no ano eleitoral, maquiados pela contabilidade criativa, tanto que valeu à presidente reeleita a rejeição das contas de 2014 pelo TCU, um incentivo a que oposicionistas entrassem na Câmara com um pedido de impeachment contra ela.
A comitiva brasileira pode apresentar os planos de reativar a economia por meio da oferta de crédito com os R$ 55,8 bilhões que o Planalto transferiu nos últimos dias de dezembro para o BNDES, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e o FGTS, com a finalidade de saldar “pedaladas” que ajudaram a maquiar a contabilidade pública e fizeram as contas de 2014 ser rejeitadas no tribunal. Falta o Congresso decidir.
De forma inédita, o governo sacou esse dinheiro da “Conta Única” mantida pelo Tesouro junto ao Banco Central. Ela provém de superávits obtidos em diversos fundos, e sempre ficou vinculada à sua origem. Desta vez, não: os recursos foram colocados em circulação sem este cuidado. Se virar rotina, num momento de inflação elevada, será ruim para as expectativas.
O xis da questão é saber se haverá candidatos a levantar esses empréstimos a serem oferecidos pelos bancos públicos, como forma de relançar a produção sem fazer o ajuste fiscal que é necessário — um dogma para o PT e da economista Dilma Rousseff.
Difícil saber ao certo, mas é grande a probabilidade de a manobra não funcionar. Há pouco, soube-se pelo jornal “Valor” que há R$ 22 bilhões no Fundo de Investimento do FGTS à espera de interessados em investir em projetos de infraestrutura. A clientela não tem aparecido, até porque este é um ramo em que os retornos se diluem em prazos longos.
Barbosa garante que não haverá subsídio neste crédito. Com a crise fiscal que aí está, é o mínimo que se espera. Trata-se de atrair a confiança do empreendedor em um governo que tem aversão à ajuste fiscal, que até a petrolífera Arábia Saudita faz. Uma aposta difícil.
Fonte: O Globo, 21/01/2016
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