As previsões para o crescimento da economia brasileira em 2014 foram afetadas pelo desempenho aquém do esperado da indústria e do comércio, nos últimos meses do ano passado. Se já havia um certo grau de pessimismo nessas projeções, a falta de chuvas conjugada à constância de elevadas temperaturas em grande parte do país introduziu mais um fator negativo nas expectativas, que é o do aumento dos custo da energia elétrica, com possibilidade de o Tesouro Nacional vir a arcar com parcela expressiva de um subsídio para os consumidores. Estimativas de crescimento, feitas no mercado financeiro, que já apontavam para menos de 2% em 2014, agora estão mais próximas de 1%, patamar de expansão semelhante ao de 2012.
Fatores estruturais, como infraestrutura deficiente e insuficiência de poupança doméstica, de fato reduzem o chamado Produto Interno Bruto potencial do país. Ainda que seja difícil definir esse limite, na prática observa-se que, ao ultrapassá-lo, a economia acentua os seus desequilíbrios. Os problemas estruturais precisam ser resolvidos para se ampliar o PIB potencial. Mas há também fatores conjunturais que momentaneamente pressionam a inflação em um ambiente de acomodação do consumo. O fenômeno estaria relacionado com o endividamento de médio e longo prazos assumido por muitas famílias brasileiras, seja para investimento (casa própria) ou compra de bens de valor elevado (veículos, por exemplo). O perfil do consumo também passa por um processo de transição, com os consumidores mudando suas preferências, enquanto colocam contas em dia.
Diante desse quadro, o arrefecimento do ritmo de atividade econômica deve ser visto com cautela, sem desespero, pois pode até ser transitório. O risco é o governo buscar um crescimento artificial em 2014, por se tratar de ano eleitoral. Não há dúvida que a economia brasileira precisa de ajustes, e isso inclui uma rearrumação nas finanças públicas. Para recuperar fôlego, o país depende agora que o setor público privilegie investimentos e faça um considerável esforço para conter suas despesas de custeio. Essa é a única forma de não recorrer a endividamento e contribua, assim, para reduzir pressões sobre a inflação e o balanço de pagamentos.
O Brasil não enfrenta uma situação econômica semelhante ao que ocorreu na Europa ou nos Estados Unidos, onde a recessão se tornou inevitável para se restabelecer novo equilíbrio. O país convive hoje com desemprego baixo, mas pode dar saltos de produtividade se investir na formação profissional e na infraestrutura. As saídas são mais viáveis e menos complexas do que as foram necessárias no mundo desenvolvido. Desde que os governantes mantenham a cabeça no lugar e não façam pirotecnias na política econômica.
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