O cenário em que está a economia brasileira ganhou uma nova dinâmica a partir do agravamento da crise cambial argentina. Na verdade, os ventos começaram a tomar nova direção, de forma nítida, a partir de meados de 2013, quando Ben Bernanke, ainda presidente do BC americano (Fed), acenou para a proximidade do momento em que os Estados Unidos começariam a reduzir os estímulos monetários para sua economia — com inexoráveis reflexos no mundo.
A perspectiva do fim da era dos juros praticamente nulos na maior economia do mundo deu início a um inexorável processo de saída de divisas de países emergentes, em busca de títulos do Tesouro americano. Economia com fundamentos desalinhados passaria a sofrer mais perda de recursos que outras. Começou uma corrida contra o tempo para o Brasil tentar arrumar a casa. Entenda-se: consertar a política fiscal desregrada, acabar com a “contabilidade criativa”, combater a inflação com afinco, não hostilizar o setor privado.
Nos últimos dias, à medida que a crise se aprofundava na Argentina, com o peso caindo mais de 10% em apenas um dia, o relógio se acelerou. Por feliz coincidência, a presidente Dilma decidira ir a Davos, onde fez, na sexta, um pronunciamento tranquilizador, no maior fórum anual do capitalismo globalizado, enquanto, no vácuo do derretimento do peso, outras moedas, o real entre elas, mergulhavam.
Muito em função das fragilidades da economia brasileira, o real, desde 2011, se desvalorizou em mais de 50%, de R$ 1,56 para R$ 2,40 por dólar — positivo para estimular anêmicas exportações de manufaturados, negativo para a inflação.
Agora, com a velocidade em que os fatos se sucedem, cabe ao governo brasileiro se diferenciar no bloco dos emergentes, pois faz parte de um continente em que se encontram as duas maiores aberrações mundiais do momento em termos de inflação e de desarranjo econômico em geral, a Argentina (inflação rumo aos 30%) e Venezuela (além da barreira dos 50%). Para agravar os riscos, dois aliados ideológicos do Planalto.
Depois de Davos, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, passou por Londres, onde fez o dever de casa, em entrevistas, palestra na London School of Economics e reunião com agentes do mercado, na bolsa de valores. O Brasil fará o que for necessário contra a inflação, enfatizou. E, ao “Financial Times”, alertou que não se pode confundir “ajustamento de preços relativos com fragilidade”. Quer dizer, o real se ajusta no mundo, como várias outras moedas, e não é por isso que deve ser confundido com o peso. De fato, enquanto o Brasil tem US$ 370 bilhões de reservas, a Argentina tinha na semana passada apenas US$ 29 bilhões, e não se sabe até que nível irão.
O país está em terreno difícil também porque a Argentina é o terceiro mercado para suas exportações. Que já não estão bem, e algum impacto sofrerão. Mais um motivo para o Planalto cumprir todas as promessas feitas em Davos e Londres.
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