Balanço das Metas do Milênio mostra que avanços sociais, econômicos e políticos ocorreram com mais intensidade em sociedades democráticas
O balanço das Metas do Milênio, realizado durante a 70ª Assembleia Geral da ONU no fim de setembro, mostrou que o mundo melhorou nas últimas décadas, pelo menos no que se refere aos oito objetivos propostos para 2015: reduzir a pobreza extrema; alcançar a universalização do ensino básico; promover a igualdade de gênero; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde das gestantes; combater doenças como malária e Aids; promover a sustentabilidade ambiental; e estimular a parceria global para o desenvolvimento. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, admitiu que ainda persistem desigualdades e as metas foram atingidas de forma assimétrica.
O sucesso, mesmo relativo, da iniciativa mostra que comprometer os países em torno de metas de prosperidade é uma iniciativa benéfica e factível. Por outro lado, a disparidade revela que os maiores avanços ocorreram nas nações que têm como sistema um modelo que combina economia de mercado e instituições democráticas.
E este é um fato importante a ser observado, sobretudo após a ONU lançar, no mesmo fórum, a Agenda 2030 do Desenvolvimento Sustentável: uma continuação das Metas do Milênio, dessa vez com 17 alvos específicos, cuja premissa geral é criar as condições para um mundo sem pobreza, mais seguro e com economia, política e meio ambiente sustentáveis.
No caso brasileiro, por exemplo, a adoção do Plano Real pavimentou o caminho para um período de prosperidade e inclusão social, abrangendo desde o governo de FH à primeira parte da gestão Lula. Com a base criada pela abertura da economia, responsabilidade fiscal e políticas sociais responsáveis, o Brasil pôde colher os frutos de um período de bonança na economia global, marcado sobretudo pela valorização dos preços das commodities. Hoje, o país corre o risco de retrocesso em todas as áreas onde avançou justamente porque se afastou do modelo inicial.
O salto de qualidade mais evidente, no mundo, foi, sem dúvida, o experimentado na região asiática nas últimas décadas, estimulado pela adesão da China à economia de mercado, em parte. É verdade que a segunda maior economia do mundo vive hoje uma crise que ofusca o esplendor dos últimos anos. Mas uma análise detalhada mostra que os percalços que o gigante asiático enfrenta atualmente provêm justamente do lado de seu sistema que se manteve preso aos vícios provenientes de um Estado centralizador e antidemocrático.
As nações que menos avançaram nas Metas do Milênio foram aquelas que coibiram as liberdades civis, de empresas e de instituições, asfixiando a economia e o sistema político. A presença do Estado traduziu-se em ineficiência, excessiva regulação, burocracia e corrupção. Em alguns casos, gerou regimes autoritários, como mostram exemplos bem próximos a nós, comprometendo avanços sociais.
Fonte: O Globo, 8/10/2015
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