Estatísticas recentes parecem mostrar que o mercado de trabalho não foi afetado pela contínua desaceleração da atividade econômica. Alguns dados, no entanto, podem estar distorcidos por uma certa ilusão estatística que tenderá a desaparecer nos próximos meses. Quando isso ocorrer, será constatada, ainda que com alguma defasagem, a real extensão das dificuldades econômicas do País, que não pouparão o mercado de trabalho – mas que o governo ainda insiste em ignorar.
Em janeiro, o desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do país ficou em 4,8%, o menor índice para o mês desde o início da série histórica da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É um resultado bem melhor do que o esperado pelos analistas do mercado. Embora seja um índice maior do que o de dezembro de 2013, principalmente em razão da redução do quadro de funcionários do comércio varejista, é bem menor do que o de janeiro do ano passado, quando o desemprego foi de 5,4%. O rendimento médio real habitual dos trabalhadores aumentou 3,6% em relação a janeiro de 2013.
Já o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado pelo Ministério do Trabalho mostrou que o número de empregos formais no país continua a crescer. Em janeiro, o aumento foi de 29.595 postos de trabalho. Note-se, porém, que o crescimento desses empregos vem se desacelerando há meses (em janeiro, o aumento do número de empregos formais foi de apenas 0,07%) e se limitando a poucas regiões. No mês passado, somente as Regiões Sul e Centro-Oeste registraram aumento.
A pesquisa do IBGE mostra que, em janeiro, o emprego diminuiu em quase todos os setores pesquisados. A indústria apresentou redução de 3,0% em relação a janeiro de 2013; o comércio, de 0,5%; o segmento de serviços prestados a empresas, de 0,8%; e o de serviços domésticos, de 2,9%. Só a construção (alta de 1,3%) e o segmento “outros serviços” (mais 0,5%) registraram aumento.
De acordo com o IBGE, o contingente de pessoas ocupadas em janeiro nas seis regiões metropolitanas foi estimado em 23,1 milhões de trabalhadores, 0,9% menos do que em dezembro de 2013 e praticamente igual ao de janeiro do ano passado. Parece paradoxal que, mesmo não tendo variado o número de ocupados, o que sugere na melhor das hipóteses a estabilidade do número de desocupados, o índice de desemprego tenha diminuído – e tanto (de 5,4% para 4,8%).
O aparente paradoxo é explicado pelos critérios técnicos e pelos conceitos utilizados na pesquisa de emprego do IBGE. É considerada desocupada a pessoa que, tendo idade para trabalhar, está sem ocupação no momento da pesquisa, mas, nos 30 dias anteriores, tomou alguma providência para conseguir trabalho, como consulta a amigos empregados e a jornais e outros meios que divulgam ofertas de emprego, inscrição em concursos públicos, entre outras. Se, no período determinado, a pessoa sem ocupação não tomou nenhuma dessas providências, ela é excluída da lista de pessoas desocupadas e também da população economicamente ativa (PEA).
A redução simultânea e na mesma quantidade do número de desocupados e do total da PEA resulta em redução, também, do índice de desemprego. Quando essas pessoas voltarem a procurar emprego, o efeito será o inverso: crescerão o número de desocupados, a PEA e o índice de desemprego.
Nos últimos meses não houve demissões em grandes quantidades, mas também não houve intensa procura por trabalho. “Essa pressão não tão forte (da procura por emprego) pode ser fruto de um adiamento dessa pressão para meses posteriores”, admite a técnica do IBGE Adriana Beringuy, que integra a equipe responsável pela pesquisa mensal de emprego.
Ou seja, pessoas hoje não ocupadas que, por causa do baixo dinamismo da economia ou outra razão, não procuraram trabalho nas últimas semanas, poderão fazê-lo nas próximas, quando a situação financeira apertar. Então, as estatísticas refletirão com maior acuidade a situação do mercado de trabalho.
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