O governo está em xeque, forçado a responder às pressões e cobranças do mercado já no começo do ano de eleições. Diante da turbulência cambial e da insegurança financeira, a presidente e sua equipe têm um motivo a mais, e muito forte, para apresentar um programa sério e crível de arrumação das contas públicas. Mas até agora as autoridades se limitaram a prometer medidas para fortalecer a situação fiscal, sem especificá-las, e para continuar reduzindo a dívida líquida. Até a semana passada, a preocupação principal era com o risco de rebaixamento do país pelas agências de classificação de crédito. Uma redução da nota poderia causar danos consideráveis, especialmente numa fase de menor oferta de financiamentos. A oferta menor seria uma consequência normal de uma expansão monetária menor nos Estados Unidos. Mas o quadro piorou desde quinta-feira, quando o peso argentino caiu 15% em um dia e evidenciou uma nova onda de insegurança em relação aos emergentes.
Uma corrida especulativa pode ocasionar estragos notáveis antes de qualquer iniciativa das agências de classificação. O governo sabe disso, ou deveria saber. Os dirigentes do Banco Central da Índia reagiram com rapidez e anunciaram na segunda-feira uma elevação dos juros. Os do Banco Central da Turquia marcaram uma reunião extraordinária, dando sinais de um novo aperto monetário para conter a inflação e manter alguma atratividade para os investidores. Na terça, as bolsas europeias subiram, numa aparente reação positiva às notícias da Índia e da Turquia. No Brasil, o dólar caiu e voltou a subir. No meio da tarde, a cotação era muito parecida com a do dia anterior.
As autoridades brasileiras continuam devendo respostas ao mercado. A nova meta fiscal deverá ser conhecida em fevereiro, quando sair a primeira reprogramação orçamentária. Nenhuma decisão sobre números havia sido tomada até ontem, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Em Londres, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, havia prometido no dia anterior todas as medidas necessárias para conter a inflação e limitar as oscilações do câmbio. Suas declarações reforçaram a expectativa de nova alta do juro básico na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, em fevereiro.
A promessa de Tombini é avalizada pelas ações recentes do BC – uma elevação gradual do juro a partir de abril. Mas a presidente da República e o ministro da Fazenda nada têm apresentado, em suas manifestações oficiais, além de promessas desmentidas pelos fatos e acompanhadas, depois de algum tempo, de outras promessas. Por que acreditar, agora, na seriedade de seus propósitos?
A resposta mais favorável talvez esteja fora das palavras da presidente e de seus auxiliares. Os sinais de temor de novos problemas e o empenho na busca de credibilidade são dados aparentemente positivos. Mas são insuficientes para interromper a dinâmica dos mercados.
Essa dinâmica inclui as análises produzidas, no dia a dia, pelas instituições financeiras e pelas consultorias. Uma aposta positiva no curto prazo foi feita pela consultoria Eurasia Group. De imediato, Brasil, Índia e Indonésia são os menos preocupantes dentre os atingidos pelas turbulências dos últimos dias, segundo o diretor para mercados emergentes, Chris Garman. As perspectivas, afirmou, são piores para Argentina, Turquia e África do Sul. No mesmo dia, o Banco Morgan Stanley divulgou uma análise bem diferente, com Brasil e Turquia apresentados como os emergentes mais expostos aos riscos atuais nas áreas de câmbio, juros, crédito soberano e crédito corporativo.
Enquanto isso, no Brasil, o pessoal do Ministério da Fazenda consulta especialistas do mercado em busca de elementos para fixar um objetivo fiscal crível e aceitável. Algo próximo de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) seria uma boa resposta, segundo analistas. Mas há quem aposte num alvo menos ambicioso e menos trabalhoso para o governo. Enquanto se espera a decisão, a insegurança permanece e muita pressão poderá ainda ocorrer até o governo anunciar seu plano.
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