Com a economia brasileira cercada por incertezas, refletidas em análises elaboradas dentro e fora do país, a presidente Dilma aproveitou a abertura do ano legislativo, ontem, para fazer o indicado: na tradicional mensagem da Presidência ao Congresso, concedeu o destaque necessário ao combate à inflação e ao controle de gastos.
Era o mínimo que se esperava. Há pouco, talvez inspirada por assessores atentos apenas aos embates político-eleitorais, a presidente tachou de “guerra psicológica” o vagalhão de críticas à leniência no seu governo com a inflação e a responsabilidade fiscal. A presidente não voltou a tocar no assunto. Deve ter percebido que não iria muito longe por este caminho. Como aplicar as teorias conspiratórias em avaliações sustentadas em tantos dados objetivos?
Argumenta-se, em defesa do Planalto, que o Brasil não é o único emergente a padecer dos efeitos dos cortes que os Estados Unidos começam a fazer na sua política de “afrouxamento monetário”, já com menos US$ 10 bilhões mensais.
África do Sul, Índia, Indonésia, Brasil e Turquia, com suas respectivas desvalorizações cambiais, foram apelidados em Wall Street de Cinco Frágeis. Mas não estar sozinho na relação das economias sob atenção não resolve o problema do país nem do governo. E, para complicar, encontramo-nos no mesmo continente das aberrações econômicas da Argentina e da Venezuela, aliados estratégicos do Planalto. Também não será apenas discurso que acalmará os investidores, financeiros ou não. Já havia sido feita uma profissão de fé na seriedade fiscal, e mesmo assim, como acaba de ser informado, o superávit primário do Brasil, no ano passado, de 1,9% do PIB, foi o menor em 12 anos, muito distante da meta de 3,1%.
Tem-se a impressão de que, discursos à parte, o governo tratou mesmo de executar a “nova matriz econômica”, até se convencer de que errara ao manter os juros baixos mesmo com sinais preocupantes da inflação, ao injetar pressão crescente no consumo e sustentar uma taxa de câmbio baixa. Por caminhos semelhantes, a Argentina está prestes a explodir mais uma vez.
Ainda bem que o Banco Central passou a agir, quando estava mais que evidente que a inflação tendia a se engessar em perigosos 6%, e o déficit externo já emitia sinais de alerta.
Coloca-se sobre a mensagem presidencial um grande e sugestivo ponto de interrogação: agora será para valer? No ano passado, não foi, mostram as taxas de crescimento dos gastos federais (13,6%) e da arrecadação (11,2%), mesmo com todas as receitas extraordinárias. Não será fácil resolver uma equação que pressiona o Planalto a fazer uma política de gastos de fato séria, enquanto os objetivos eleitorais puxam o governo para o outro lado.
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